domingo, 27 de dezembro de 2009

despoluindo - Scarlett Johansson





Top - David Cronenberg


01. Marcas da Violência - 10
02. Crash - 10
03. Gêmeos - 10
04. Senhores do Crime - 10
05. Mistérios e Paixões - 10
06. eXistenZ - 10
07. Spider - 10
08. A Mosca - 10
09. Na Hora da Zona Morta - 8
10. Videodrome - 8
11. Calafrios - 7
12. A Enraivecida na Fúria do Sexo - 7
13. Scanners - 6
14. Stereo - 1
15. Crimes do Futuro - 0

Top - Irmãos Coen


01. Barton Fink - 10
02. Queime Depois de Ler 10
03. Onde os Fracos Não Têm Vez - 10
04. O Grande Lebowski - 10
05. O Homem Que Não Estava Lá - 10
06. Ajusta Final - 10
07. Fargo - 10
08. Gosto de Sangue - 10
09. Na Roda da Fortuna - 8
10. E Aí, Meu Irmão, Cadê Você? - 8
11. Arizona Nunca Mais - 8
12. O Amor Custa Caro - 6
13. Matadores de Velhinhas - 5

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Star Wars - Uma Nova Esperança (George Lucas, 1977) - 9


Tem coisas que me incomodam nesse filme, pra começar, o começo. Os primeiros 5 minutos são bons, a primeira aparição do Vader, saindo do meio dos soldados imperiais, com a imponência que lhe seria de costume, aquela respiração se misturando com a músiquinha classica do império... putz, não teria como não se tornar um personagem clássico, e o tom de ameaça é passado muito bem. A merda é logo depois, quando os dróides caem em tatooine a coisa chega a feder por um tempo. O pessoal vai me matar, mas eu acho que o episódio 1 consegue passar de forma bem mais interessante a desinteressante vida do anakin do que nesse aqui com a do luke. É um negócio mecânico demais, sem cuidado, sem charme, sem diferencial nenhum. Os caras pareciam estar no piloto automático, totalmente entediados por terem que filmar aquilo já que era importante narrativamente, mas loucos pra pularem pra parte onde o luke aceita a missão, e isso demora muito. O que essa parte é? os dróides fazendo babaquices constrangedoras (po, é a pior parte deles na trilogia), o luke reclamando da vida e etc. parece um harvest moon espacial, muito tempo focado em probleminhas banais do luke. O clima aqui foi muito mal cuidado, e na boa, Luke sem Leia, Solo, Yoda ou alguém ao lado dele, é um personagem totalmente desinteressante. Quando o Obi Wan surge, lá por uns 30 e poucos minutos, as coisas começam a melhorar, mas só começa a ficar bom mesmo no momento em que encontram o Solo. Daí sim, tem alguns dos melhores momentos da saga. Todos os momentos envolvendo a Falcon são ótimos, principalmente ela sendo sugada pelo império, e parando ali, no meio dos lobos. o resgate na estrela da morte então... entre as melhores partes da saga. Mas eu ainda fico triste vendo aquela luta broxante do Vader com Obi Wan. =/ Mas beleza, limitações técnicas, só acho que não precisavam ter contratado o coreógrafo do Lion Man. Agora a parte que me irrita, o final ser limitado aquela batalhazinha de naves e o alvo "acerte aqui! acerte aqui!" que a maior fortaleza espacial do mundo carrega. Sim, claro, o que não pode faltar em uma fortaleza é um local desprotegido que se atingido, destruíria ela por completo. Mas esse absurdo da coerencia não seria problema caso a cena fosse filmada direito, mas tudo ali é bocejante, sensação de jogar um videogamezinho de naves do dynavision. Muito mais legal se tivessem estendido o filme todo na estrela da morte na hora do resgate, fazendo a batalha obi wan x vader como a última coisa do filme antes de alguém mandar tudo pros ares. O climax é muito broxante, sem sal. Resumindo acho o começo meia boca, o final ruim e o recheio delicioso. Na verdade isso não é tããão importante assim, mas é uma pena, pq poderia ser o melhor star wars de todo, ou pelo menos fazer frente com o império contra-ataca que é OP.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Deixe Ela Entrar (Tomas Alfredson, 2008) - 8


Bem bom mesmo. Trata todas as caracteristicas do vampirismo de uma forma "pura", dando o verdadeiro tom do fardo que é carregar, e sem parecer forçado no ambiente do filme que é bastante frio e real. Que olhar da guriazinha, consegue passar um negócio angelical e sanguinário ao mesmo tempo. O cara consegue criar cenas muito boas mesmo, sabe bem como usar uma narrativa mais lenta, um passeio de câmera, criar imagens paradas com força visual forte e etc, sem parecer aquela coisa irritantemente guns vanstesca. o final na piscina é muito bom. Mas mesmo assim, acho que gostei menos que a maioria.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Depois de Horas (Martin Scorsese, 1985) - 10


uou, que scorsa diferente! dos que to acostumado, pelo menos, já que falta muita coisa do cara. Tem um estilão David Lynch, mas em vez de explorar o bizarro de uma forma mais pesadona, que pareça ter saído de um pesadelo, aqui é mais surto mesmo, como se tivesse caído em uma dimensão paralela, parece um gibi que li uma vez do mickey onde ele cai em uma ilha da fantasia, só que aqui tem muita perversão. É como se cada janela daquele espaço abrigasse uma personalidade alienigena, tu se sente orfão o tempo todo, sem a quem recorrer, e isso tudo não no sentido de tensão, mas sim de curtir as bizarrices e onde o cara se meteu. que mundo é esse?! Bah, que Scorsa bom aqui, e engraçado, o melhor dos que já vi disparadaço mesmo.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

sábado, 12 de dezembro de 2009

The Wonders - O Sonho Não Acabou (Tom Hanks, 1996) - 9 ou 10


bah, que filme delicioso. Diferente de Quase Famosos onde mostra um bastidor mais sujo (nem tanto), mais viciado e etc, aqui o Hanks acerta em cheio ao mostrar toda aquela ingenuidade apaixonante, aquela empolgação diante do primeiro show, da primeira vez que a música toca na rádio etc. Filme muito honesto, não tenta pseudalizar nada, praticamente mostra apenas a desvirginação da gurizada ao estrelato, passo a passo, curtindo cada momento, cada avanço. transborda fofutice mesmo, gostoso pacas. E a Liv Tyler mexendo os ombrinhos é de doer de tão linda. Queria uma pra mim. *.*

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Atividade Paranormal (Oren Peli, 2009) - 1


Fraco, muito fraco, e a tentativa de tensão crescente falha miseravelmente. sério, era pra eu ficar tenso em ver aquele tabuleiro pegando fogo? em ver um lençol levantando? em ver pegadas de farinha no chão? chego a achar esse filme arrogante demais, ele esnoba todo recurso que o cinema pode oferecer pra poder criar uma atmosfera boa, toda liberdade que tu tem pra criar universos, modificar eles, utilizar elementos reais misturados com ficcionais pra poder intensificar a experiência cinema como um todo e etc; simplesmente pra se vangloriar de ser extremamente fiel a supostos acontecimentos reais. Sim, em uma hora da noite uma porta bate, isso poderia ser real. um lençol se movimenta, poderia ser real.. e etc. Isso são acontecimentos com uma capacidade extrema de assustar quando vividos por alguém, quando lidos em algum artigo, quando ouvidos de outra pessoa... Claro que sim, pq aí é sua realidade e como a conhece sendo posta em dúvida. Não é uma mentira. Mas o cinema É uma mentira. É uma mentira consciente e voluntariosa que tu paga para assistir. Esse cara não pode esperar que as duas linguagens do medo se misturem, se confundam. Eu ver na minha casa um lençol se movimentando do nada, eu vou me cagar de medo e correr pra mãe, agora eu assistir um lençol se movimentando no cinema, da forma mecânica que foi, fria, sem clima... é nada. Eu não vou me assustar, eu não vou ficar tenso, ele tem que criar isso, ele tem que criar a atmosfera, o clima... Não jogar na tela coisas que supostamente meteriam medo na vida real achando que vai funcionar também, sem cuidado algum. O cara se da o luxo de abdicar tudo isso. Nossa, é uma vergonha isso aqui.

Top de todos os tempos (um por diretor)


Vou fazer uma coisa que nunca tinha feito, até pq sou meio contra isso, que é fazer top sem repetir diretor. Vejo muitos fazendo isso e acho uma bobagem, não tem muito sentido tu deixar de cita-lo mais de uma vez pra colocar outro que tu considere que tenha uma qualidade inferior. Sério, não entendo. Mas vou brincar dessa forma também apenas uma vez, pra ver o que saíria, e deixando claro que meu top de todos os tempos original seria bem diferente desse (a não ser os 3 primeiros, são isso mesmo). vá lá:


01. Bastardos Inglórios (Quentin Tarantino, 2009)
02. Memórias de Um Assassino (Bong Joon-ho, 2003)
03. Antes do Pôr do Sol (Richard Linklater, 2003)
04. De Volta Para o Futuro (Robert Zemeckis, 1985)
05. O Iluminado (Stanley Kubrick, 1980)
06. 3 Homens em Conflito (Sergio Leone, 1966)
07. Marcas da Violência (David Cronenberg, 2005)
08. Eles Vivem (John Carpenter, 1988)
09. Zona de Risco (Chan-wook Park, 2000)
10. Kairo (Kiyoshi Kurosawa, 2001)
11. Encontros e Desencontros (Sofia Coppola, 2003)
12. Dog Soldiers (Neil Marshall, 2002)
13. Barton Fink (Irmãos Coen, 1991)
14. 12 Homens e Uma Sentença (Sidney Lumet, 1957)
15. As Pontes de Madison (Clint Eastwood, 1995)
16. Um Tiro na Noite (Brian De Palma, 1981)
17. Blackout (Abel Ferrara, 1997)
18. Manhattan (Woody Allen, 1979)
19. Alta Fidelidade (Stephen Frears, 2000)
20. A Felicidade Não se Compra (Frank Capra, 1946)

Anticristo (Lars Von Trier, 2009) - 8


Beleza quem acha que esse filme se agarra em metáforas, mas comigo, independente de qualquer uma, ele funcionou de forma bem boa pela simples imagem escorrida e o significado imediato dela.

Ignorando por enquanto o fator mulher e as metáforas que ele pode ter depositado nesse ser, na primeira hora e pouquinha o meu sentimento foi de acompanhar uma espécie de experimento emocional dos mais horripilantes, nojentos, que já assisti, criado por um dos personagens que mais me causou incômodo, e não falo dela, e sim dele. Como se toda atmosfera, o ambiente daquele lugar, fosse um laboratório que intensificasse a podridão emocional da sua cobaia.

O personagem que o Dafoe criou, confesso, me gelou em certas partes. A natureza racional dele, frieza, criando jogos do medo, experimentos de cura através de injeção de dor, de traumas... como se o remédio pra uma queimadura fosse enfiar a mão no fogo. Ok quem não considera cinema, quem não considera terror, mas o que eu vi em boa parte do filme é cinema, é terror, e dos bons.

Até que a reviravolta acontece, e a vítima não é mais vítima, na verdade não existe mais vítimas, apenas filhas da puta. Eu entendo perfeitamente quem diz que isso vai totalmente contra suas preferências, visão etc, quanto a cinema. Que a personalidade afetada do diretor tenta ser mais importante que a imagem, e ganha uma imponencia irritante, mas de qualquer forma, pra mim falha, e ainda resta muita coisa boa. Principalmente o contraste doentio do casal. Um que durante o filme todo mostra uma racionalidade, frieza enojante, um facinio pela deblitação emocional, como se sentisse prazer em dar agulhadas na alma, enquanto ela se mostra o oposto disso, uma pessoa pulsante, necessitada pela dor explicita, fisica, pelo sangue, pelo sofrimento externo, o mal se manifestando de todas as formas naquela floresta. Tem várias coisinhas que me incomodaram, mas acho que bem menos que pra maioria, mas no geral, funcionou comigo.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Top - Quentin Tarantino


01. Bastardos Inglórios - 10
02. Pulp Fiction - 10
03. Cães de Aluguel - 10
04. Kill Bill Vol 1 e 2 - 10
05. Death Proof - 10
06. Jackie Brown - 10

Top - Abel Ferrara


01. Blackout - 10
02. New Rose Hotel - 10
03. O Rei de Nova York - 10
04. Vício Frenético - 10
05. Ms.45 - 10
06. Invasores de Corpos - 10
07. O Assassino da Furadeira - 10
08. Os Chefões - 10
09. Os Viciosos - 10
10. Olhos de Serpente - 10
11. Maria - 9

O Assassino da Furadeira (Abel Ferrara, 1979) - 10


Finalmente vi esse. Não é só o Ferrara mais surtado, mas sim um dos filmes mais surtados que assisti. Ninguém cria um mundo tão podre quanto o Ferrara, mas depois de ver esse aqui da pra notar que ele até se conteu nesse sentido nos filmes posteriores. Na verdade ele cria quase um universo alternativo, onde a podridão, irracionalidade, perversão etc não são apenas as caracteristicas mais evidentes, mas sim as únicas possíveis. É um mundo morto, coberto por lama, quase que uma conexão com o inferno já contagiada. E aquela furadeira perfurando corpos gratuitamente. É muito do mal, é como se fosse aquela murrinha que fica acumulada na piça, nojento, fedorento. Só que ao contrário disso chega a ser op. Quem não gosta desse é mulherzinha ou uma bichinha louca.

Dog Soldiers (Neil Marshall, 2002) - 10


putz, esse cara sabe criar tensão! e tava falando com o araujo ontem no msn, que estilo forte, marcante, em pouco tempo tu reconhece o sujeito de abismo do medo. aqui ele constrói todo o seu clima em uma espécie de night of the living dead mais porra loucona, mostra os lobinhos sempre com uma imponência assustadora, nunca gratuitamente, sempre passando a sensação de "ih, fudeu" toda vez que eles aparecem. Consegue usar toda a limitação do ambiente como um amplificador de tensão, é como se aquela casa fosse feita de isopor, e os lobinhos pudessem derruba-la com um sopro (hãhã), faz com que tu se preocupe tanto com a munição quanto eles próprio, repare em cada janela, fresta... E mesmo adorando Abismo do Medo, esse aqui chega a ser bem superior em todos os sentidos. Além de tudo, esse negócio é elegante demais. A selvageria rola solta, sim, tripas e etc (aliás, tem uma cena envolvendo tripas que é genial), mas no meio de tudo isso ele ainda consegue espaço, pra, por exemplo, pausar o filme e fazer um personagem tocar piano enquanto ele desfila com a câmera do lado de fora, mostrando a lua refletindo uma luz azul sobre a névoa, enquanto o uivo dos lóbisomens parecem acompanhar a música, e isso não parece deslocado, já que logo em seguida mostra todo o peso de cada sobrevivente naquela cabana, dando uma impressão de conformismo com a morte arrepiante. É alto nível isso aqui mesmo, tem cenas excepcionais. olha, entre os 10, 15 melhores da década, por aí, não acho que to exagerando. Isso aqui vai muito além de Abismo do Medo.

Recentes.




Vou começar a acumular os filmes que tenha visto aqui, com comentário ou não. Em negrito e na foto, o melhor.


01. 500 Dias com Ela (Marc Webb, 2009) - 10
02. Adventureland (Greg Mottola, 2009) - 10
03. Zombieland (Ruben Fleischer, 2009) - 10
04. Eu Te Amo, Cara (John Hamburg, 2009) - 10
05. Jogos Mortais VI (Kevin Greutert, 2009) - 5
06. Dog Soldiers (Neil Marshall, 2002) - 10
07. O Assassino da Furadeira (Abel Ferrara, 1979) - 10

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Bastardos Inglórios (Quentin Tarantino, 2009) - 10


Ta, depois de baixar um pouco a poeira, esfriar um pouquinho ele, to em melhores condições pra comentar algo do filme (mas bem pouco, pq se for falar de tudo que gostei ninguém iria ler mesmo). É, o cara tava completamente apaixonado aqui. Falar de maturidade no cinema é estranho, dizer que esse aqui é um tarantino bem menos narciso que os outros pode soar errado, ele não abandonou a própria lambição enquanto se assiste na frente de um espelho, ta tudo ali, no mesmo lugar onde deixou em kill bill, pulp, death, etc... E talvez em até uma escala maior. Mas é inegável que ele também evoluiu pra um outro nível,em qualquer outro filme se via um tarantino amante do cinema, da sua própria genialidade, de seu ego... agora vemos um cara também apaixonado pelo processo, pelo simples prazer de criar a imagem. Diferente de Kill Bill, onde ele estrutura todo seu filme em capitulos pra alcançar uma coerencia narrativa mais sólida, em contar realmente a história da noiva e sua vingança. Aqui eu vejo praticamente um foda-se pra isso, é um cara se entregando de corpo e alma desde o primeiro segundo do seu filme para intensificar cada frame que filma. Pegando o inicio como exemplo, ok que ele vai explodir mais adiante, que é parte essencial também pra história que ele quer contar, mas também pode ser considerado como um filme a parte. Toda aquela cena tem vida própria, independente do que aconteça mais a frente. o tarantino praticamente caminha pé por pé naquele microcosmo que criou onde os dois homens conversam, ele da voltas com sua câmera, nos faz prestar atenção nas janelas, na tensão de que algo possa aparecer atrás delas, ou saltar, ou se revelar. mesmo que nao tenha nada, e seja bobagem pensar que sim. Ele nos apresenta 3 personagens femininas que não abrem a boca, coloca um certo grau de profundidade em uma delas, como se fosse diferente das outras duas, apenas com expressões, sugere que mais pra frente isso vai ser desenvolvido, mas abandona completamente. Ele faz isso apenas pra deixar aquele momento mais orgânico, mais vivo. Ele não abandona a imagem por conseguir o efeito narrativo que deseja, ele vive ela, ele suga até a última gota, tudo o que aquele momento pode proporcionar. Ele passa a mensagem para o personagem, ao mesmo tempo que conversa com quem está do outro lado da tela, apenas pq pode fazer isso, pq o cinema o permite. Não faz questão alguma de humanizar ninguém, não faz questão de deixar ninguém preso, mergulhando na história, ele só faz questão de mostrar que aquilo é CINEMA. De mostrar a força que uma imagem pode carregar, de amamenta-la até que exploda, que não existe limitações pra isso, e o quanto pode ser empolgante a imagem, simplesmente ela. É um brinde do Tarantino, um brinde ao cinema, principalmente a imagem, e diria que o melhor que já assisti.

E tem o Christoph Waltz, que com a melhor atuação do cinema faz o melhor personagem, só.

sábado, 10 de outubro de 2009

A Vila (M. Night Shyamalan, 2004) - 10




Vou ignorar alguns pontos qu gostei bastante pra priorizar o que realmente gostei, que foi esse indiano criando um dos romances mais bonitos que conheço em um ambiente horripilante. Quando o william hurt revela pra todos que vai deixar a filha cega entrar na floresta pra buscar os medicamentos, ele coloca em sua defesa a palavra "inocência", que esse é o objetivo daquilo tudo, que sem isso nada ali faria sentido, e de todos os objetivos que eles tentaram buscar com a farsa, acho que esse deve ser o único que foi realmente na mosca. O que eles conseguiram criar ali foi um conto de fadas, um lugar acalorado, habitado por pessoas sem maldade, ingenuas, sinceras... Perfeitas pra fantasia que inventaram, e totalmente inadequadas pra onde realmente vivem. É simplesmente lindo ver o romance do Lucius e Ivy sendo revelado aos poucos, de forma timida, ingênua, de certa forma boba, e tudo isso em volta daqueles muros erguidos com o medo de cada um daquele lugar. Os anciões atingem o objetivo de criar pessoas boas, totalmente inclinadas para o bem, e os jogam em um mundo onde devem conviver diariamente com o medo, com a insegurança, com monstros de garras gigantes, com a fragilidade da medicina local e etc. E claro que a inevitavel tristeza invade o lugar, não tem como fugir disso, a diferença é que essa inocência forçada que habita cada um deles apenas torna tudo mais terrível. Na tentativa que tiveram com a criação do local em diminuir a dor, eles diminuem todo o resto, inclusive o preparo, eles podem ser pessoas feitas prinicipalmente de amor e bláblá, mas óbvio que isso não é o suficiente pra viver no mundo real. E mesmo assim a garota cega corre pela floresta, enfrenta a podridão, o medo, a incapacidade fisica que poderia ter sido evitada... Tudo isso pra salvar quem ela ama. É triste, mas é bonito pacas.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O Hospedeiro (Bong Joon-ho, 2006) - 10


Depois que terminei de assistir esse filme fui logo tentando conter o entusiasmo, evitei ficar imaginando o nível de empolgação que ele poderia ter despertado em mim, me contentei apenas em lembrar de cenas isoladas, sem precisar enxerga-lo como um todo, mesmo sem ter uma compreensão melhor do que tinha acabado de assistir, depois faria isso. Basicamente esfriei ele e fui fazer outra coisa, pra não cair em uma falsa empolgação e atira-lo em um patamar onde não está, como aconteceu com Filhos da Esperança, filme que eu surtei quando terminei de assistir e depois caiu vergonhosamente (mesmo ainda achando bom, só que nem perto do que imaginei no inicio). Fiz isso pq a sensação que senti ao terminar esse foi muito semelhante com a vez em que terminei o do Cuarón.

Então o processo de digestão com esse aí foi diferente pra mim, como falei ali, não me interessei no momento em me aprofundar de uma forma mais ampla no que tudo aquilo ali tinha me dito, me limitei a curtir e deliciar especialmente com todo o caráter visual da coisa, desde o momento em que o monstro aparece como uma simples mancha negra quase que imperceptivel dentro da água, ou quando fica encolhido quase que no formato de um casulo embaixo da ponte, até a batalha no meio daquele caos de fumaça amarela. Isso aqui é tão bem filmado que da vontade de ficar revendo certas cenas sem parar. Não falo apenas em movimentos de câmera, enquadramentos e etc, mas isso tudo sendo posto em pratica em um dos ambientes fisicos mais geniais que pude conferir (eu diria que é o mais). A atmosfera criada naquele local é um personagem a mais no filme, a ambientação onde ocorre tudo aquilo passa ser parte essêncial, tão importante quanto o monstro, tão importante quanto qualquer outro personagem. Pra se ter uma idéia, é a mesma coisa que pensar em Chaves fora da vila. Não da. Aquele cenário ganhou vida própria, é orgânico, ele pulsa. Se resolvessem voltar a produzir aquilo em algum outro condominio, não daria certo, ali era a casa perfeita pra eles. Esse lago, esse encanamento, essa toquinha do bichão, é a embalagem perfeita pro filme, tem tanta vida quanto o monstro, chega a brilhar a coisa. Poucas vezes eu vi um ambiente tão bem utilizado, que na metade do filme tu já estivesse familiarizado com os arredores, em uma espécie de aconchego até. Talvez coisa semelhante eu tenha visto em Dogville, Querida Wendy, Sinais, A Dama na Água, Stalker... Mais alguns até, mas nada com a intensidade desse aqui. É demais.

una isso com a capacidade insana desse japa em criar cenas de ação visualmente lindas com uma dramaticidade empolgante. Aliás, aí ta um grande diferencial desse pra maioria dos catastrofes, o filme é muito mais drama do que qualquer outra coisa. Se tu pegar um Independence Day, Cloverfield, Guerra dos Mundos, sei lá, onde o foco é a ameaça contra o mundo, e os personagens especificos presos nesse universo fugindo também dessa ameaça.. aqui é diferente, fica tudo mais limitado. Aqui é foda-se o mundo, o que importa é a familia. Na verdade é totalmente pessoal, família x monstro, chegando a ser uma questão de honra, todas as consequências externas deixam de ser importantes pra desenvolver exclusivamente os objetivos de resgate deles. Mais ou menos como se caso isso fosse conquistado, dane-se o que aconteceria depois. Acontece que isso é muito mais arriscado, e pra conseguir se sair bem nessa, apenas criando um núcleo de personagens extremamente eficientes. E pqp, vendo isso, fica difícil saber onde esse cara acerta mais nesse filme. Todos os personagens, tanto os que partem para o resgate quanto os que esperam por ele, praticamente nascem inesqueciveís. Ele adota na criação deles uma personalidade infantil, escrachada, dando caracteristicas e habilidades semelhantes até as de personagens de anime, onde o humor e a ingenuídade prevalecem, e conseguindo inserir isso no universo do filme de uma forma que sempre faça as emoções oscilarem para os dois lados, como sentir o lado amargo que os personagens vivem, como também rir com eles, a cena do velória é perfeita pra ilustrar isso.

É praticamente uma fábula moderna, da familia que vai em resgate da garotinha na toca do peixe gigante. E no final, as consquências disso tudo, é as recompensas que cada um consegue, é dos momentos mais bonitos do cinema.

Sem medo de me enganar como com Filhos da Esperança, um dos 20 melhores filmes que assisti.

domingo, 13 de setembro de 2009

Audition (Takashi Miike, 1999) - 10



Talvez quando se pense nesse filme, pra maioria o que venha imediatamente na cabeça são os 10 minutos finais e toda a selvageria dele, e realmente seriam dignos pra isso. Mas comigo foi outra. Essa cena aí, a garota sentada, com os cabelos acobertando o rosto, imóvel, em um ritual silêncioso de atração macabra. Até que tudo é interrompido pelo som do telefone, e um certo objeto em cena se move. Então se vê um rosto seco como gesso, se contorcendo no sorriso mais diabólico visto nessa arte. O que esse japinha conseque aqui é violento.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O Silêncio do Lago (George Sluizer, 1988) - 10



Qualquer coisa que mexa com esse lance de quebra de destino já faz com que me desperte uma certa curiosidade, já que é um negócio que eu sempre achei interessante, e esse aqui extrapola em todos os limites isso. O filme já destoaria de 99% de outros thrillers que tem por aí pelo simples fato da falta de dúvidas: o assassino já é revelado, o destino da vitima fica totalmente claro e a única coisa que nos resta é esperar um como aconteceu, e acompanhar o mergulho autodestrutivo por respostas de um personagem, e clareamentos sobre a personalidade sociopata de outro, o que só engrandece tudo, já que poupa qualquer perda de tempo em explorar qualquer clichê já exaustivamente explorado em coisas semelhantes. O cara que perde a esposa é interessante, toda a busca alucinada dele, a obceção por uma resposta dominando cada centimetro de músculo do corpo, a incapacidade de se vincular a qualquer coisa que não faça parte do mistério que tenta solucionar, ou distrair, nem que por um segundo, o pensamento sobre isso, é filmada de uma forma absurda, a sensação é que o tempo realmente passou de uma forma diferente pra ele: de uma forma rápida, como se nesses 3 anos não tivesse vivido outra coisa, e ao mesmo tempo sofreu toda a carga de tempo que o drama lhe causou nesse período. E o cara que faz o personagem ta demais. Mas não tem, 90% do filme é o sociopata filha da puta.

Não existe uma razão muito lógica pra ele fazer o que faz, a não ser o simples fato de fazer pq seria algo que ele não faria, seria como vencer a própria vontade e lucidez, como desviar a linha pré estabelicida da vida (que "inevitavelmente" já estava traçada) pra algo novo, destruindo o próprio destino e, consequentemente, o de outras pessoas. Não destruindo de forma literal, mas sim criando um inteiramente novo, como um cara que se forma na faculdade de medicina, já tem uma idéia bem clara do que lhe espera, e muda tudo esfaqueando uma pessoa qualquer na rua. Ele fugiu da vida que teria, venceu o medo dessa mudança, pelo simples conforto de se sentir dono do próprio destino. Evitar ou inevitável, ou algo do tipo. Enfim, é talvez o personagem mais interessante que eu vi no cinema, sem exagero.

E a forma que tudo é filmado é demais. Porra, aquela cena no inicio do tunel, ou o final (que é de uma crueldade absurda)... Bah, um dos melhores filmes do gênero, se não for o melhor.

sábado, 1 de agosto de 2009

Dazed and Confused (Richard Linklater, 1993) - 10


É incrível como existem filmes que estão bem ali, do teu lado, já passaram por ti milhares de vezes, e tu nunca tinha os enxergado com os olhos certos, mas na verdade isso é pq tu nunca sentiu eles do jeito que poderia. Quase como uma guria que tu trabalha ou estuda junto, sempre te dando a maior bola, e tu esnobando, até que um dia ela arranja outro cara, tu começa a notar as coxas dela, a bunda, os peitos, o quanto essa guria era legal e pensa "porra, onde eu tava com a cabeça que não reparei antes?" e vira o amor da tua vida. Sorte que filmes não te trocam por outros caras, mas todo o resto aconteceu exatamente comigo. Eu sempre adorei Dazed and Confused, nunca dei menos que nota 10 pra ele, não encontrei nada de muito novo nessa revisão, os méritos continuam praticamente os mesmos, os motivos que fazem eu gostar também, etc, mas... PORRA! Agora foi devastador, uma nostalgia impressionante. Fiquei pensando aqui, os motivos que podem ter feito ele subir de forma tão radícal no meu conceito dessa vez, e acho que dois foram essências: um é o emocional, óbvio que eu tava muito mais receptivo, muito mais no clima, com uma sensibilidade pra esse tipo de mensagem bem mais aguçada e etc, e outro, principalmente, é o perseptivo mesmo, antes eu via ele basicamente como um espelho da melhor época, um retrato em movimento daqueles momentos fodões que hoje só existem na lembrança, e quanto mais tempo passa, quanto tu puxa na memória, vem sempre acompanhado com um sorriso bobão. E ele continua sendo isso, só que hoje eu vi esse conceito ser aplicado de uma forma bem mais ampla, bem mais generalizadora, não se limitando a ser uma super memória não sua mas muito parecida, mas sim um resgate completo dela com um ligamento do que você é hoje e do que será amanhã. É lindo isso aqui.


O filme não é pra quem vive essa época, o filme é pra quem viveu essa época (e quando falo época, não me refiro aos anos 70, mas sim esse período colegial independente da década que tenha sido). O filme é pra ser acompanhado sempre com o pensamento invejoso de que você já fez isso tudo, sabe como é bom, mas que nunca mais vai voltar. Não tem como dar muitas voltas nisso aqui, ele é o que mostra ser, essêncialmente, ele é a garotada fugindo de uma surra, e tratando isso como um envento mais aterrorizador que a segunda guerra mundial, que te consome por completo.. ele é a gurizada saindo por aí, sem objetivo algum, apenas pq o tempo naquele momento não faz falta, ele nem passa, na verdade... ele é a insegurança de chegar numa guria pela primeira vez, ele é a satisfação de quando se anda com uma turma que tu sempre idolatrou "putz, esses caras são legais, eu sempre quis ser como eles", ele é a sensação de ficar podre de bebado com 3 latinhas de cerva pela primeira vez, e se sentir o rei do universo por isso, ele é a sensação de imponencia, se superioridade, o prazer de intimidar os mais novos e mais fracos apenas pq são mais novos e mais fracos, e você pode fazer isso,ele é fazer qualquer merda na rua em qualquer lugar que tenha, só por fazer mesmo, ele é FESTA o tempo todo, e sempre á caça de gurias e álcool nela!... mas acima de tudo ele é tudo isso sendo visto por quem já passou, por quem sabe que acabou, por quem vê aquela gurizada aproveitando sem ter ainda a noção do que estão vivendo, sem saber o quanto essa fase é mágica - e talvez a única fase mágica da vida - e, inevitavelmente, se questionando se você passou direito por ela. Será que não poderia ter aproveitado mais, se divertido bem mais? Mas aí não vale, se alguém passar por ela com a real dimenssão do que ela representa, seria sem graça. Ela tem que ser vivida por idiotas como nós erámos e como todos ali são, não tem que ser pensada, só sentida, e o filme fode totalmente no bom sentido com isso. E é incrível como o final representa muito bem o final disso, eles no campo do ginásio, deitados no gramado, fumando uma baseado, e ali, quando se dão conta que acabou, tudo vai ficando... sei lá, precioso, e a única coisa que vale na vida é aquele momento e os momentos em que eles se divertiram pra caralho juntos. E porra, aqueles são momentos teus também, pq assim como acabou pra eles acabou pra você também. Até que o dia amanhace, e o tempo realmente passou. Foda. Eu diria até que se tornou meu filme preferido hoje, mas sei lá, vou esperar um pouco.

Two Lovers (James Gray, 2008) - 10


Já no inicio dois caminhos são apresentados: o caminho bom, seguro, correto, que ele mereça (no sentido positivo); e o caminho oposto a tudo isso. E logo no começo já descobrimos que ele não vai ter força pra escolher qualquer um desses, mas sim vai ser jogado no único em que uma pessoa com o coração traumatizado como o dele poderia seguir: o do amor. É um amor errado, corrompido, podre e inevitavelmente comprometido, mas mesmo sendo assim, não significa que não seja amor. E sim, aqui o amor é justamente o vilão, a escolha errada, a que faria ele ser levado novamente para o começo (ou para o mesmo lugar), mas que mesmo assim é impossível de ir contra.


Tudo já está anunciado, a merda já ta escrita, não teria nem iria terminar diferente, e a angustia que ela chegue (e vai chegar) não é menor apenas por termos a consciência disso, pelo contrário, é mais ou menos como colocar um vaso em frente a uma janela e assiti-lo balançando com o vento, com um pouco mais de força ou um pouco mais de tempo ele vai cair, e mesmo sabendo disso é impossível não contorcer o rosto quando ouvir o barulho dos cacos se espatifando. E quando isso finalmente acontece, é só a expressão do Joaquin Phoenix que temos na frente, e nesse momento nos damos conta que estamos vendo talvez a cena mais sufocante de todos os tempos, mas que saberiamos que iria acontecer.


E, de qualquer forma, não consigo dizer se é um final infeliz, ou feliz. É apenas um final.Segundo melhor da década pra mim, fácinho fácinho.

A Liberdade é Azul (Krzysztof Kieslowski, 1994) - 9


Quando a personagem da Juliette Binoche acorda na cama, é como se começássemos a fazer um tour pela expressão humana. O nosso guia obviamente é a câmera, e é um guia bem indiscreto. Ele circula pelos poros a procura do maior encadeamento da dor, e nós somos turistas segurando máquinas fotográficas à procura do melhor ângulo. “Aqui vemos uma sutil tremida de queixo. Não vai durar muito, viu? Parou. Não me perguntem por que, mas isso sempre acontece. Agora se me acompanharem até aqui… Observem esse olhar. Conseguem acreditar que existe um ser vivo esmagado por ele? Ah, e não se aproximem muito para não serem sugados para o oco infinito que ele carrega. E nada de alimentar os animais”. Kieslowzski vai além de filmar a carne como simples carne, ele praticamente usa a câmera como uma seringa enfiada na medula. Ao em vez de puxar qualquer líquido dela, ele traz qualquer coisa que não seja física. É a melancolia ganhando contornos.


Ao sair do quarto do hospital ela minimiza sua vida a um estado de conta-gotas. “Menos um dia. Menos dois dias. Menos dois dias e 6 horas”, e isso fica bem evidente em uma cena especial, quando ela está sentada em um banco na rua e olha uma senhora, muito velha, com o corpo inclinado, se arrastando pela rua, fazendo um esforço descomunal apenas para largar uma garrafa no lixo reciclável. Ela não a observa com pena, mas sim com inveja. Com uma nostalgia inversa, em saber que ainda resta esperança “eu ainda vou envelhecer e morrer, pena que falta tanto”. Ela praticamente renuncia todos os sentimentos e espera a hora chegar.


É uma pessoa que sente uma dor constante, que não da trégua, que é capaz de fazer uma espécie de “pacto” com a dor física se automutilando “eu deixo você entrar em cena, desde que consiga monopolizar meu corpo. Nem que seja por míseros segundos, por favor”.


Não tem como resumir o filme de outra forma, ele é um tratado sobre a dor, sobre a perda, sobre a incapacidade de viver mesmo sobrevivendo. E uma atuação monstruosa da Juliette Binoche. Um dos filmes mais sufocantes que já assisti.

Invasores de Corpos (Abel Ferrara, 1993) - 10


Ca ra lho. Bom demais essa merda! Como falavam que esse era o menos Ferrara, tava esperando algo mais tradicional (mas ainda assim muito bom), não um dos melhores filmes de terror, sci fi, etc, de todos os tempos. E isso só é tradicional se comparado apenas ao próprio cara. Agora é oficial pra mim, ninguém filma melhor que ele. O que é a cena onde o Forrest Withaker é cercado por aqueles malucões? É sério, poucas vezes mesmo alguém conseguiu transportar tão bem essa sensação de exilio, de completo sufocamento, de frio na barriga quando enxerga a poucos centímetros uma mão que corre atrás de ti. É inquietante toda vez que um personagem caminha sozinho, ou é cercado em uma sala, ou perseguido em locais abertos, etc, por outros seres em um número maior que ele.


E fora que é genial demais a forma que tudo acontece. Não existe brutalidade ou coisas do tipo, é tudo através do sono. Não existe indicios de que essas “criaturas” realmente são uma ameaça, ou ameaça maior que nós, apenas a intimidação. Sugadores de emoções, e consequentemente o podre de cada um. Numa visão romântica onde sensações são talvez a maior razão para vivermos, é o fim de tudo abdicar delas, mas na visão mais fria, onde visam a igualdade de todos, seria o ideal, talvez.


A forma como tudo ocorre mostra que talvez eles estivessem muito mais preparados pra tomar conta do planeta, que o reflexo deles é algo bem menos doentio que o nosso, e é só ver a nossa forma de revide final.


Enfim, é demais mesmo.

Phenomena (Dario Argento, 1985) - 9


O Argento é um baita de um putão pervertido, e aqui ele joga em limites inacreditáveis a excitação pela carne jovem, inexplorada, e toda a sensualidade que ela pode exalar. E nada melhor pra isso que uma Jennifer Connelly em miniatura e toda gostosinha. A história é uma bosta, a condução dela seria sonolenta, mas o negócio é que fica impossível dormir vendo aquelas coxas branquinhas e jovens, correndo dentro de uma camisola com o ombro estratégicamente descoberto, e os seios no mais perfeito equilibrio entre os doces e delicados de uma criança, com os firmes e excitantes de uma jovem. E o Argento cria um ambiente soturno no sonambulismo apenas como desculpa para um desfile da genuina sensualidade infatil, escorregando a câmera pelos lábios, mãos, olhos, coxas e tudo que se tem mais, criando a imagem de um ser puro por essência mas que carrega consigo, e descarrega, até nos seres mais insignificantes que a rodeiam, um aroma de luxuria que fica impossível correr contra. O que é demais, e aí eu não via a hora do filme terminar pra eu descarregar também.


o filme seria "só" isso até os últimos 30 minutos, por aí (e o que já teria me agradado bastante), mas depois fica MUITO bom, quando ele finalmente surta, usa a trilha animal, joga tudo na merda, cria imagens fantásticas naquele pequeno pedaço de inferno na terra, e cria um ambiente podre, doentio, rodeado por vermes e membros pra revelar o verdadeiro demônio que criou. E pqp, dessa hora em diante fica demais mesmo.

Réquiem Para um Sonho (Darren Aronofsky, 2000) - 1


Antes de qualquer pedra: 1.eu não tenho nada contra câmera esquizofrênica, desde que saibam usa-la, e, principalmente, QUANDO usar. 2. Eu não tenho nada contra intelectualismo travestido por narrativa ou estética moderna e etceteras, desde que saibam como fazer. 3. E, definitivamente, eu não tenho nada contra a implantação de algum estilo próprio que tenha como único objetivo alcançar algum requinte visual (ou audiovisual) ou simplesmente para ser usado como uma muleta narrativa cool (se tivesse, não adoraria o Tarantino, por exemplo), desde que isso seja interessante. Mas o que eu com certeza tenho contra é ter que aturar 1 hora e meia de filosofia vazia sendo filmada como se tivessem fazendo um remake de 2001 “dahora”, não na mensagem, mas na suposta pretensão de determinado assunto.


Essa porcariazinha que esse sujeito qual nome eu não estou afim de fazer um ctrl c,v, fez, é o exercício mais bizonho de inutilidade cinematográfica. Réquiem Para um Sonho é simplesmente nada. Ele finge ser tudo, mas não é porra nenhuma. Ou seja lá o que ele for, é muito pouco perto do que ele finge ser.


O que Réquiem Para um Sonho é? Um filme que trata apenas e exclusivamente das consequências do uso de drogas. Eu uso e vou ficar assim e blá,blá. O que Réqueim Para um Sonho pensa que é? Ha, muita coisa: pensa que trata da solidão, alienação emocional, deslocamento no mundo, etc. E é filmado de tal forma que faça você acreditar que realmente existe algo por trás de tudo isso, quando na verdade ele ta filmando o vazio.


Vou pegar exemplos práticos do que Réquiem Para um Sonho é, e o que ele finge ser: Jennifer Connelly e Jared Leto, estão os dois deitados em uma cama, e então o diretor resolve corta-los, fazendo duas perspectivas na mesma cena, a dela e a dele, e então é um desfile de câmera pelos corpos dos dois. Primeiramente há apenas um confronto de olhares, eles obviamente estão em uma sintonia emocional fantástica, os olhos falam mais que a boca, são dois seres que definitivamente tem muito o que dizer (o diretor sugestiona isso com sua câmera), e então, infelizmente, o silêncio é quebrado, e o que antes era sugerido pelos olhares, agora é transformado em poesia pelos jovens rebeldes. “você é a pessoa mais linda do mundo” diz ele, “você acha mesmo?!” retruca ela, “sim, sim... sei que nunca devem ter te dito isso, mas é o que penso” indaga o james dean contemporaneo, “não é isso, já me falaram... mas é que antes não significava nada. E agora que você falou, significa, sabe...?” Sabe? É... E depois vai a Jennifer Connelly pra frente do espelho, nua na parte de baixo, e levanta os braços deixando com que uma luz acolhedora branca tome conta do lugar. Cada um pode interpretar como quiser, uns podem achar que ela estava em um estado de libertação espiritual muito forte, mais ou menos quando a mente se separa do corpo, ela pôde se desprender dos elos carnais e se livrar, momentaneamente, dessa terra cheia de injustiças, podridões, e alienação (alienação) que nossa gravidade nos obriga a sermos prisioneiros. Um momento muito belo do cinema. Ou simplesmente levantou os braços para cima enquanto estava nua na parte de baixo, que foi tudo o que aquela cena me disse. Ta, eu sempre sonhei em ver os pelinho pubianos da Jennifer Connelly, mas tinha que ser assim? Mas ok, ta valendo.

Ou vamos voltar um pouquinho no tempo, quando Jennifer Connelly e Jered Ledo invadem um prédio. Eles vão para a cobertura desse, contemplar a linda vista e desprender suas mentes juntos. Depois desse exercício emocional, o diretor comete o erro (de novo, ou primeiramente, tanto faz) de deixar eles falarem, daí ela reclama dos pais, e ele retruca “po,mas teus pais são legais, eles te dão tudo” daí ela explica “ah, sabe, eles me dão comida, dinheiro,estudo, etc,mas não dão o principal, sabe? O principal” (sabe?), daí ele “hmmm, tu tem razão. Mas pq tu não pede pra eles (pais filhas da puta) abrirem uma loja pra ti fazer teus desenhos?” daí ela “ta louco, não quero depender deles pra nada” então ele tenta a ultima cartada “mas pq tu não trabalha então?” daí ela da o touché “pq assim eu não teria muito tempo pra ficar contigo” Óunnnnnn, fufis. O diálogo foi mais ou menos assim, mas não consegui transmitir a mesma elegância. Ou seja, já deu pra entender a merda de tudo. O diretor filma eles como se fossem aspirantes a John Lennon, como se tivessem um lado Freudiano onde suas indagações transbordassem por suas peles. É quase como se ele usasse patins para filma-los, e por certas vezes, confundisse a câmera com um violino, é tudo muito belo. A grande merda é ele não assumir seu filme simplesmente como um choque visual, mostrar as consequências e pronto, um braço podre, uma mulher espumando, uma garota sendo enrabada pra conseguir a droga, etc. A merda é que ele sugere algo mais, ele endeusa os personagens, e não faz nada pra que essa expectativa seja alcançada. Ah, e tem o negão também, mas desse não quero falar, mas ele tem um lance com a mãe e tal. Hmmm...


E, enfim, a Ellen Burstyn... Chega a ser triste ver o esforço que ela faz pra tornar tudo digno. Aliás, isso é o mais triste do filme. A atuação dela ta fenomenal, é a única que consegue demonstrar a fragilidade e sensibilidade que a personagem exige. Mas a câmera desse sujeito... Ok, ele prefere satirizar a personagem no começo, adotar um tom irônico com aqueles glup glup glup e os cacete, usar uma geladeira e televisão como vilões e tudo mais. Ele é um sujeito engraçado (mais ainda quando não resolve ser). Mas o sujeito não tem noção de quando parar, ou acalmar. Ele transforma a personagem em uma palhaça, não digna de pena, mas de indiferença. A Ellen se fode lá pra sentirmos pena, mas é só indiferença mesmo, ou risos (ok, até tem como sentir pena, mas não da personagem, mas sim da atriz). O cara parece um diretorzinho recém saído da escola de cinema que quer mostrar seu estilo “muderninho” de filmar, e acaba jogando toda as sutiliezas que certas partes exigiam pelo ralo, devido a esse egocentrismo babaca. É um cara que implanta um estilo bobo, que não serve pra porra nenhuma narrativamente, e fica ridiculo visualmente, só pra parecer legalzão. É daqueles filmes perfeitos pra colocar em perfil do orkut. Tudo que se trata com a personagem da Ellen Burstyn é uma muvuca, um troço feio, ruim de assistir. Ele estraga uma personagem ou atuação, sei lá, fantástica, devido a não ter a minima noção do ridículo. O filme parece aquelas festas infantis criadas por uma bagaceira que casa com um velho rico (aquelas com unhas gigantes vermelhas, vestido de oncinha e um sinal que parece um buraco negro no rosto) e agora que tem dinheiro, inventa de fazer tudo sozinha, cheia de palhacinhos e lingua de sogra (e pescaria com brindes). O filme é feio visualmente, e um nada no que se refere mensagem. Simplesmente não existe, é como se filmassem Todo Mundo em Pânico com Mozart no fundo.


Ah, ok, tem uma cena boa: quando as amigas da Ellen Burtyn vão até aquela clinca lá e encontram ela com os cabelos cortados, toda horrível etc, e depois muda pra elas no banco, chorando. A Ellen não fala nada, mas é comovente mesmo, e se esse tom fosse adotado desde o começo... Isso é um choque visual, apenas. Isso que ele devia ter se assumido,mas não...


E não quero terminar elogiando: o filme é uma grande bosta.

sábado, 18 de julho de 2009

Agora ou Nunca (Mike Leigh, 2002) - 10


Bah, minha primeira experiência com o cinema do Mike Leigh, e acho que dificilmente poderia ser mais devastadora. E na verdade o tipo de cinema aqui geralmente é meio perigoso comigo, algo do tipo 8 ou 80, essa coisa de mostrar a podridão afetiva que cada um está preso, essa espécie de alienação emocional, de solidão a dois e etc, ou seja, a vida e toda sua bosta, na maioria das vezes me afasta um pouco, raros os casos em que eu realmente consigo me emocionar, e esse é um deles.


Todas as subtramas são boas sim, e nem sei se posso considera-las dessa forma, já que até tem como juntar tudo no mesmo saco, mas o que realmente comove são os dois principais. Primeiro aquele afastamente que parece irremediavel, onde os diálogos de um com o outro se resumem em resmungos ou coisas do tipo, ou simplesmente um sim ou não, ok, é... como se há tempos estivessem caminhando por lados opostos, e que a falta de cumplicidade chegasse e níveis desesperadores. Na verdade você começa a se importar, gostar ou não dos personagens, justamente quando eles interagem com qualquer outra pessoa, que mesmo uma total desconhecida, que tenha conhecido naquele exato momento no taxi, seria mais fácil de se abrir.


até que tudo tem que ir pior pra mudanças acontecerem. Como um ataque cardíaco, uma gravidez indesejada... Não na mensagem óbvia do tipo "o destino teve que interferir para que tudo ficasse bem" e bláblá, que nem acredito nisso no filme, mas sim com que emoções extremas precisassem acontecer pra eles despertarem qualquer tipo de emoções neles mesmos. E isso aí fica tri lindo na cena que eu considero a principal do filme, onde ambos ficam pela "primeira" vez cara a cara mesmo, e onde frases como essa são ditas "eu me sinto como uma árvore que não se molha", é o tipo de coisa que normalmente geraria apenas risos pela suposta pretensão e pieguisse, mas que, devido ao contexto de tudo, dita com aquela sinceridade ingênua, com aquela melancolia evidente, com aquele expressão... causa um aperto de sufocar mesmo. E fora que as duas atuações principais são... porra, uau! Aquela expressão "presa", dura, como se fosse de gesso, onde os músculos há anos não experimentassem uma contração diferente, como a do sorriso sincero, de real satisfação... Enfim, é impressionante o que eles conseguem, e, mesmo sendo personagens cheios de defeitos, de falhas até no caráter, impossível julga-los de uma forma mais rigorosa, tamanha a humanidade e sinceridade que eles conseguem passar. Na verdade muito por isso que a cena onde eles explodem é tão comovente.

Baita filme mesmo.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Zombie (Lucio Fulci, 1979) - 10


Impossível não associar a trilogia do Romero, até pq grande parte de Zombie foi chupado dela, mas também impossível pra quem é fã desse sub gênero ficar indiferente aos "upgrades" que o cara implantou. Primeiro a forma que ele idolatra os zumbis, diferente do Romero, que implanta o medo mostando os bichinhos em um senso "coletivo", dando a impressão do total encarceiramento pra aterrorizar, aqui o Fulci resolve passear pelos corpos deles... mostrando o podre, os vermes, o odor (quase consegue isso), exaltando visualmente de uma forma nunca vista a sensação da morte voltando a vida, e todos os poréns desse ritual. E fora que o cara implanta alguma das melhores cenas do gênero, como da mulher tendo o olho perfurado pelo pedaço de madeira, ou do zumbi lutando com o tubarão (wtf? heuheue). Não perde em nada para os do Romero.

Antes do Amanhecer (Richard Linklater, 1995) - 10


Esse aí fazia um bom tempo que eu não revia, e a imagem que tinha é que era ótimo, mas o segundo tinha uma consideravel vantagem em relação a esse, e que foi apagada agora. Na verdade o filme continua sendo "inferior", tanto nos diálogos, que por vezes são jogados de uma forma pouco natural, na tentativa de impressionar com uma filosofia pseudo seiláoque, quanto no desfile da câmera, que dessa dessa vez passeia por cenarios bem menos elegantes, com enquadramentos bem menos elegantes e etc. Na verdade aqui temos atores mais imaturos, um diretor mais imaturo, personagens mais imaturos, e um filme, consequentemente, bem mais imaturo, o que é perfeito pro contraste de tempo que um tem do outro. Na verdade isso tudo é essencial, até pra termos não só uma melhor noção da passaem de tempo, mas sim da evolução existencial de cada personagem. E esse contraste de "maturidade" de cada filme, só intensifica ambos, de forma distintas: o primeiro fica parecendo um romance mais puro, ingenuo, com preocupações imediatas, tipica da adolesência, já o segundo carrega todo um arco dramático de "por onde minha vida foi, pra onde minha vida vai..?" e etc, que seria totalmente incoerente aparecer no primeiro. Na verdade acho que é isso, um é um filme bem mais imaturo e o outro mais maduro, e nem poderia ser diferente. Perfeitos.

3 Homens em Conflito (Sergio Leone, 1966) - 10/10


OP do caralho essa. Todo mundo que fala desse filme fala da cena final, no cemitério, e nem tem como deixar ela de fora mesmo. Não é só uma das melhores cenas do cinema, é apenas a melhor. O clima que o Leone cria é algo de outro mundo, pensando agora ele deve ter ficado uns 5 minutos apenas filmando o olhar, o coldre, as mãos, a arma, etc, dos 3 se encarando, e aquilo em momento algum se torna cansativo, maçante ou algo do tipo; mas também se eu pensar de novo, talvez aquela cena tenha apenas 1 ou 2 minutos, e a tensão e empolgação que ela despertou em mim possa ter feito eu ter criado uma falsa perspectiva do tempo, achando que tudo ali é mais longo do que realmente é. O ponto é que eu nem sei quanto tempo dura aquela caralhisse lá, mas foi algo marcante, foi mais ou menos o ápice do cinema, não acho que a sensação causada naquela cena possa ser superada em algum outro filme, talvez igualada, só, e talvez. Clint Eastwood, quando morrer, se é que a morte vai ter coragem de tentar alguma coisa com esse cara, tem que ter escrito em sua lápide a seguinte palavra: imponência. É a melhor coisa que pode o definir, não existe outro ator que tenha uma presença tão marcante e intimidadora quanto a do Clintão, é como se a câmera se encolhesse diante a presença dele, e todo o cenário envolta parecesse menor quando ele está em cena, na mesma perspectiva que tudo parece menor quando temos um gigante ao lado. E Aquela trilha... Óh Deus, Óh Deus.

A Outra (Woody Allen, 1988) - 10/10


O filme mais perturbador, angustiante, sufocante do Allen. Em uma das poucas vezes que ele tentou copiar Bergman, conseguiu até o superar. Ficamos prisioneiros das confissões dos personagens, é como se as palavras não saíssem da forma convencional da tela, mas sim como se estivessémos escutando escondidos por de trás da porta. A voz delicada, doce, e extremamente melancólica da Mia Forrow, só não emociona mais do que a expressão de extrema angustia da Gena Rowlands, como a de alguém que descobre o quanto sua vida - apesar de estável financeiramente, profissionalmente e etc - foi desprovida de sentimentos. Essa é pra mim a experiência mais arrebatadora no sentido reflexivo dos caminhos que poderíamos ter tomado: como seria se tivesse feito isso, e não aquilo; se tivesse ficado com aquele(a), e não esse(a). etc. Marion é a personagem mais interessante que o Allen ja criou, a mais cativante, tridimensional. Uma mulher que vive de lembranças, que vive em uma eterna melancolia que nem ela sabia estar. Não que ela desejasse amor ou paixão, ela apenas tinha esquecido de como era, e só foi reviver a vontade de sentir novamente esses desejos depois de perceber o quão "tarde" era. Quando as lembranças já não eram mais suficientes. Existe uma certa frase no filme que define bem o sentido disso "lembranças são experiências que guardamos ou experiências perdidas?" ou algo assim.Woody Allen é o melhor roteirista de todos os tempos, eu já não tenho duvida disso. Aqui é onde ele transborda toda sua genialidade dramática, existe inúmeros diálogos onde os efeitos são devastadores, como esse"Agora que a minha vida chega ao fim, só tenho coisas pra lamentar. Lamento que a mulher com quem partilhei minha vida, não tivesse sido a que mais amei. Lamento que não haja amor entre meu filho e eu. A culpa é minha" etc. E a atuação da Gena Rowlands é uma das melhores de todos os tempos. É o Morangos Silvestres do Woody, e funcionou muito melhor comigo.

Tiros na Broadway (Woody Allen, 1994) - 9/10


A impressão que tive é que o Allen quis fazer uma peça dentro de um filme dentro de um outro filme. É como se a peça ditasse o ritmo da realidade dos personagens, que por sua vez é uma realidade completamente cinematográfica, com atos bem divididos, personagens bem definidos, diálogos criados para causar impacto cômico, etc, assim como os da peça teatral. A realidade vai se alternando na mesma proporção que a peça também vai, tornando todo o universo do filme algo propositalmente cinematográfico. É como se fosse uma peça de teatro dramática dentro de um filme de gangsteres que por sua vez está dentro de um filme de comédia. Uma grande brincadeira metalinguística do Allen, uma salada de estilos hiária mesmo, entre os mais engraçados do cara. Os melhores momentos são da Diane Wiest e Jennifer Tilly. E o Cusack caiu como uma luva pro papel.


É como se fosse o Barton Fink com Goodfellas dos Allen. :B


"Don't speak, don't speak! Don't don't don't...don't speak!"


huhauhauahua

Memórias (Woody Allen, 1980) - 10


Existe uma frase em A Outra (do Woody também), onde a personagem questiona se “lembranças são experiências que guardamos para sempre, ou experiências perdidas”. E é com isso (também) que o Woody Allen flerta nesse aqui, do quanto somos prisioneiros dos momentos que consideramos os melhores da vida, e a incapacidade de oportunizarmos viver algo semelhante com outras pessoas devido ao pensamento pessimista de que nada vai superar o que já passou, e ninguém superar quem já se foi. Ele transforma as memórias nesse filme como correntes presas pelo pescoço com uma bola de aço na ponta, o sentimento de nostalgia aqui é tratado como uma sentença, como um peso que somos obrigados a carregar e impossível de se desfazer, que nos impede de tentarmos criar qualquer tipo de sentimento semelhante no futuro. E ele faz isso no meio de muitos risos, muita autocrítica, já que não são raros os momentos em que personagem questiona, sempre de forma ácida, o quanto pseudo são suas indagações. Mas nem por isso o filme perde o gosto amargo que deixa na boca.


Mas algo que não se pode deixar de comentar quando se fala em um filme como esse, é a forma GENIAL que o personagem encontra para rever seus momentos. De uma forma totalmente inesperada, como uma caminhada sem aparente significado, ou no meio de uma multidão de entusiastas pelo seu trabalho, ele começa a relembrar pequenas passagens de sua vida, e muitas vezes as confunde com a própria realidade vigente, e em algumas outras, até mistura lembranças que aconteceram em ocasiões diferentes, com pessoas diferentes, em um único momento, transformando em uma pensamento inteiramente novo mas não menos nostálgico, e, por certas vezes, deprimente. Coisa de GÊNIO.

Corpo Fechado (M. Night Shyamalan, 2000) - 10


A maior parte do filme trata da batalha interna de David para acreditar e aceitar o que é. Outra na descoberta de seus poderes, e, finalmente, isso sendo posto em prática. É o indiano trazendo o fantástico mundo das HQs para um universo frio e descrente. Quando o assunto é A Dama na Água, muito se fala na capacidade que precisamos ter de desvinculamento com a realidade, para só assim conseguirmos entrar no universo do filme, e se conseguirmos isso, a experiência é muito gratificante. Em Corpo Fechado, apesar de o principio parecer o mesmo, não é. Aqui Shyamalan pede uma coisa muito mais ousada: ele não quer que o fantasioso e a realidade trabalhem em vertentes diferentes, que se exclua uma para acreditar na outra, na verdade aqui ele torna ambas dependentes e possíveis no mesmo universo. Temos nossa realidade fria e cruel, com vendedores de drogas em estádios, assassinos pedófilos, racismo, etc. E em contra partida, heróis e mocinhos, super poderes, identidade secreta, ponto fraco e etc. O filme não tenta criar um universo próprio que se espelhe no nosso para fazer criticas ao ser humano ou coisa do tipo, ele apenas implanta elementos fantasiosos e os torna completamente possíveis se a pessoa tiver o mínimo de mente aberta. Na verdade para se acreditar nisso não seria o “mínimo” que precisaríamos, mas muito mais que isso, só que o mínimo torna-se suficiente devido à direção fantástica do Shyamalan e a forma completamente segura que ele acompanha cada frame do seu filme. Na verdade nós começamos a acreditar muito mais fácil que David Dunn realmente é um super-herói no nosso mundo, do que ele próprio.


Shy coloca dois “representantes” seus no filme, duas pessoas que estão dispostas a acreditar no inacreditável, e que estão dispostas a qualquer coisa para provar sua certeza: Josph, filho de David, e Elijah. Ambos estão “aptos” a acreditar por não terem ainda criado raízes com a realidade que os cerca. Joseph, por possuir a genuína ingenuidade infantil, e Elijah, por ter sido excluído da sociedade devido ao seu problema físico e ter se encarcerado em universo fantástico que são seus gibis. Nenhum dos dois realmente tem certeza se David é mesmo um super-herói, mas ambos se jogam de cara nessa possibilidade, que se verdadeira, faz toda a vida ganhar um novo sentido. Elijah e Joseph, apesar de diferentes, se assemelham na vontade que ambos sentem de escapar do universo que os cerca. Joseph, por estar na fase de transição, na parte onde a criança começa a virar adolescente, e logo adulto, fazendo com que seja jogado na realidade escrota que é nosso mundo, onde não existe magia, não existe o fantástico, não existe nada. E Elijah, não passa de um adulto que se recusou a crescer. Sem espaço na sociedade e sem espaço no mundo. Pra ambos David é a salvação, uma forma de acreditar em um algo a mais. Joseph foi capaz de apontar uma arma para seu próprio pai para conseguir provar sua teoria, e Elijah capaz de matar centenas de pessoas apenas para encontrar seu salvador. O filme fala de pessoas que querem encontrar seu significado, de super heróis e etc. Mas acho que a mensagem mais forte aqui é o desespero que sentimos para acreditar que a vida não é apenas o que passa diante os olhos

Diário dos Mortos (George A. Romero, 2007) - 9


Um recomeço pra série, mas sem abandonar o que ele havia iniciado em Night. Na verdade o principio é o mesmo: os mortos levantam do nada e começa o banquete ininterrupto. Sem mais explicações. E como nenhum filme do Romero é feito apenas para vermos a carnificina rolando solta, a habitual critica dele aqui continua afiada como sempre. Se em Despertar dos Mortos somos rebaixados ao nível literal de mortos vivos, pessoas corrompidas pelo consumismo que vagam sem motivo qualquer por um shopping center; e em Dia dos Mortos ele brinca com o rigor injustificável do militarismo, de ao em vez nos sentirmos protegidos nos sentimos muito mais ameaçados... Nesse aqui a birra vai para passividade e frieza humana diante das barbáries que vemos pela tela da TV, monitor ou qualquer coisa do gênero. Como na maioria dos filmes filmados com a câmera em primeira pessoa, o personagem que a carrega não foge do estigma de “o idiotão que vai ficar filmando tudo sem qualquer motivo aparente não importa o que aconteça”, mas ao contrário da maioria, essa é justamente a intenção do Romero, já que esse idiotão é justamente o nosso reflexo. É como se ele usasse a tela da câmera como uma espécie de escudo para o sangue que jorra das pessoas, como se ele estivesse em um mundo alternativo, onde encarna um espectador passivo da situação para tentar se redimir da culpa do que acontece a sua volta, igual a quando vemos protegidos pela tela da televisão milhares de pessoas morrendo por guerras, passando fome e etc. Cada morte se torna apenas mais uma morte.Mas criticas a parte, o filme é tenso pra caralho. Já no inicio, quando o personagem encarregado de segurar a câmera está filmando um filme caseiro, chegamos a conclusão de que ele não é um brilhante diretor, e o Romero usa o filme todo pra brincar com isso. Ele cria uma atmosfera absurdamente tensa e assustadora e joga o sujeito da câmera no meio dela no sentido de “vá lá, se vire”. É como se um diretor medíocre ganhasse uma ingresso para visitar o inferno na companhia de sua câmera. Claro que esse inferno é criado pela genialidade do Romero, então é como se existissem dois filmes: o Romero tocando o inferno por onde passa, e o cara filmando esse inferno.Poderiam até criar uma nova trilogia com esse recurso em primeira pessoa, fica a sensação de que muita coisa legal pode ser mostrada desse jeito. E o filme tem um dos suicídios mais geniais da história, hilário mesmo.

A Primeira Noite de Um Homem (Mike Nichols, 1967) - 9/10


Não sei quem já leu, mas na introdução da primeira parte da saga The Dark Tower, Stephen King fala sobre “ter 19 anos”. Ele falou que nessa idade, depois de ler Senhor dos Anéis, foi quando decidiu que queria criar o romance popular mais comprido da história. Mais comprido apenas, sem qualquer sinônimo de qualidade. Ele sabia disso, e não entendia o motivo dessa sua obsessão, apenas queria, e isso o bastava. Falou também que essa é a idade perfeita para sermos arrogantes. Que o mundo é que deveria ter cuidado com nós, não o contrário. Que nessa idade somos capazes de fumar TNT e beber dinamite.Que é o momento em que nos tornamos mais confiantes, tanto emocionalmente quanto fisicamente, e que nessa idade ainda não notamos qualquer vestígios das subtrações que certamente nos esperam, e nem nos importamos com isso. É a melhor idade. Ele queria criar o maior romance de todos os tempos, tinha arrogância o suficiente pra isso aos 19, mas só começou a fazê-lo nos 22. O maior, que não significa o melhor. Infelizmente geralmente é assim (não no caso do King, que apesar de não ter atingido o objetivo de escrever o maior, pelo menos conseguiu o melhor, pra mim), e essa fantástica idade é a que passa mais rápido. Começa nos 18, 19... E vai até os 22, 23... 24 (pra quem tem sorte). Temos pouco mais ou pouco menos de 5 anos para poder nos equipararmos com Clint Eastwood ou qualquer outro fodão que exista. Depois começamos a virar homenzinhos com responsabilidades de homenzinhos. E desse momento em diante fode tudo.


Benjamin tinha 21 anos, ele sabia que essa fase estava passando, e em branco. Ele não era do tipo que aparentava ter bebido dinamite na escola ou faculdade. Ele era do tipo bom aluno, que se dedicou inteiramente aos estudos, e aos 21 anos já estava preparado para virar homenzinho. Claro que ele não queria isso, na verdade ele não sabia o que queria. Na verdade talvez ele queria qualquer coisa, menos isso. Ele queria ainda criar a sua torre, queria era comer a sra. Robinson. E foi o que fez, o verão todo.Não querendo subestimar o poder de sedução da sra. Robinson, claro que não, mas quando Benjamin ia toda noite praquele quarto de hotel o prazer que ele procurava não era necessariamente o que depositava no meio das pernas da esposa do sócio do seu pai, mas sim de estar fazendo algo que não deveria estar fazendo, que só se torna perdoável quando passamos por essa transição de idade ao qual ele tinha desperdiçado esses anos todo, que já estava chegando ao fim. Ele comia a sra.. Robinson ao em vez de trabalhar ou estudar. O verão passava e nada mudava. De dia na piscina, a noite comendo a sra. Robinson. Sexo, sexo, sexo, toda noite. Sexo com uma mulher casada e com família. Sexo ao em vez de proseguir com sua vida profissional. Finalmente ele estava aproveitando a idade. Estava fazendo o que não se deve fazer, mas tudo bem, já que ele ainda não era um homenzinho.


Sexo sem propósito não cansa. Por mais que digam o contrário, não cansa. Mas Benjamin já estava em uma nova fase, podia arriscar mais. E é aí que surge Elaine. Trocar sexo por amor é mais arriscado, com certeza. Principalmente se esse amor for da filha de quem você fez sexo o verão todo. Mas foda-se, você ainda não é um homenzinho pra se preocupar com isso. E troca-se o sexo pelo amor. Como ele sabe que é amor se apenas comeram hambúrguer e batata frita juntos uma vez? Ahh... Na verdade é sobre isso que se trata o filme, não sobre despertar de paixões ou putarias do tipo, mas sobre um cara que não quer fazer porra nenhuma, que quer evitar o máximo entrar no trilho já pré estabelecido para sua vida de comedor de lagosta em mesa de mármore. Ele quer é sair por aí e botar o diabo por onde passar, só por mais um tempinho. Os trens passam de 15 em 15 minutos, pegar o próximo não vai fazer tanta diferença, já que ele tem apenas 21 anos, e quando finalmente embarcar, não tem volta. Mais 15 minutos.


Claro que Elaine descobre o que ele fez no verão. Claro que ela da um chute nele e os seus pais o impedem de ver a garota. E claro que ele ta pouco se fudendo pra isso, já que ele tem apenas 21 anos. Mas mesmo descobrindo que a garota está para casar, isso não o desestimula de tentar recuperá-la. Benjamin entra no seu carro, atravessa o estado e parte pra batalha épica que o espera. E o final do filme é uma explosão. Ele tinha um plano: chegar na igreja, resgatar a donzela, e sair correndo pela estrada. Era um brilhante plano, que alguns litros a menos de gasolina não o impediriam de realizá-lo. E ele chega na igreja. Lá já não existia apenas a donzela. Existe o também já marido dela, os pais, que ganharam características vilanescas, e todos os outros zumbis que vieram presenciar o ritual demoníaco que estava acontecendo. Todos eles contra Benjamin e Elaine, que precisou de apenas alguns segundo para se entregar de vez ao herói que veio salvá-la (ela devia ter 21 também).


Naquela hora Benjamin finalmente se tornou o Clint Eastwood. Ao em vez de duelar contra vilões previsíveis que depositam suas motivações em um saco de ouro, duelava contra sugadores de almas que já não viam perspectiva alguma para seus futuros e tentavam arrancar qualquer vestígio disso dos outros. E em vez de um revolver, nada mais simbólico que uma cruz pra espantar esses coisas ruins. E Benjamin e Elaine escapam, deixando todos presos na sua caixa de infelicidade, contorcendo-se e espumando de raiva.


Já no ônibus, os dois seguem calados pela estrada. Elaine chega a se virar para o lado e olhar para Benjamin, com a intenção de receber alguma palavra de conforto, mas nada acontece. Claro que não, ele ainda está deslumbrado pelo incrível feito que acabou de realizar, o amor é forte, mas o que ele fez dentro daquela igreja é muito mais. E, além disso, puta que pariu, amanhã é dia de procurar emprego. Agora com esposa etc, era hora de finalmente tornar-se homenzinho. Mas é só olhar pra expressão dele, valeu a pena.


Idade foda essa.

F for Fake (Orson Welles, 1973) - 10/10


Não existe obra mágica. Um quadro, por mais maravilhoso que seja, é apenas um amontoado de cores contornados por uma mão. Se uma outra pessoa utilizar os mesmos amontoados de cores e contornos de mão, a obra torna-se tão real quanto a original. Á mágica é criada internamente pela pessoa que enxerga, qualquer estimulo externo é apenas estimulo. O falso e verdadeiro se confundem, tudo que é falso é verdadeiro, e tudo que é verdadeiro é falso, e ambos são ambos. Somos apreciadores de formas, imagens, etc. Criamos significados para elas que elas realmente não possuem, pelo menos não isoladas. Criamos uma mentira para uma forma, para criarmos uma verdade para nós. Nos deixamos enganar pela nossa própria mentira para conseguirmos torna-la verdadeira. Orson Welles brinca o tempo do quanto somos reféns voluntários da mentira. Se não fosse isso nada teria sentido, inclusive o cinema. Ele cria a maior mentira da história do cinema, para criar o cinema mais verdadeiro da história, a síntese do que apalavra “cinema” representa. Falam muito de Cidadão Kane, mas a obra máxima do cara é essa aqui, com certeza. E nem preciso ver os outros pra saber disso. :B