sábado, 18 de julho de 2009

Agora ou Nunca (Mike Leigh, 2002) - 10


Bah, minha primeira experiência com o cinema do Mike Leigh, e acho que dificilmente poderia ser mais devastadora. E na verdade o tipo de cinema aqui geralmente é meio perigoso comigo, algo do tipo 8 ou 80, essa coisa de mostrar a podridão afetiva que cada um está preso, essa espécie de alienação emocional, de solidão a dois e etc, ou seja, a vida e toda sua bosta, na maioria das vezes me afasta um pouco, raros os casos em que eu realmente consigo me emocionar, e esse é um deles.


Todas as subtramas são boas sim, e nem sei se posso considera-las dessa forma, já que até tem como juntar tudo no mesmo saco, mas o que realmente comove são os dois principais. Primeiro aquele afastamente que parece irremediavel, onde os diálogos de um com o outro se resumem em resmungos ou coisas do tipo, ou simplesmente um sim ou não, ok, é... como se há tempos estivessem caminhando por lados opostos, e que a falta de cumplicidade chegasse e níveis desesperadores. Na verdade você começa a se importar, gostar ou não dos personagens, justamente quando eles interagem com qualquer outra pessoa, que mesmo uma total desconhecida, que tenha conhecido naquele exato momento no taxi, seria mais fácil de se abrir.


até que tudo tem que ir pior pra mudanças acontecerem. Como um ataque cardíaco, uma gravidez indesejada... Não na mensagem óbvia do tipo "o destino teve que interferir para que tudo ficasse bem" e bláblá, que nem acredito nisso no filme, mas sim com que emoções extremas precisassem acontecer pra eles despertarem qualquer tipo de emoções neles mesmos. E isso aí fica tri lindo na cena que eu considero a principal do filme, onde ambos ficam pela "primeira" vez cara a cara mesmo, e onde frases como essa são ditas "eu me sinto como uma árvore que não se molha", é o tipo de coisa que normalmente geraria apenas risos pela suposta pretensão e pieguisse, mas que, devido ao contexto de tudo, dita com aquela sinceridade ingênua, com aquela melancolia evidente, com aquele expressão... causa um aperto de sufocar mesmo. E fora que as duas atuações principais são... porra, uau! Aquela expressão "presa", dura, como se fosse de gesso, onde os músculos há anos não experimentassem uma contração diferente, como a do sorriso sincero, de real satisfação... Enfim, é impressionante o que eles conseguem, e, mesmo sendo personagens cheios de defeitos, de falhas até no caráter, impossível julga-los de uma forma mais rigorosa, tamanha a humanidade e sinceridade que eles conseguem passar. Na verdade muito por isso que a cena onde eles explodem é tão comovente.

Baita filme mesmo.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Zombie (Lucio Fulci, 1979) - 10


Impossível não associar a trilogia do Romero, até pq grande parte de Zombie foi chupado dela, mas também impossível pra quem é fã desse sub gênero ficar indiferente aos "upgrades" que o cara implantou. Primeiro a forma que ele idolatra os zumbis, diferente do Romero, que implanta o medo mostando os bichinhos em um senso "coletivo", dando a impressão do total encarceiramento pra aterrorizar, aqui o Fulci resolve passear pelos corpos deles... mostrando o podre, os vermes, o odor (quase consegue isso), exaltando visualmente de uma forma nunca vista a sensação da morte voltando a vida, e todos os poréns desse ritual. E fora que o cara implanta alguma das melhores cenas do gênero, como da mulher tendo o olho perfurado pelo pedaço de madeira, ou do zumbi lutando com o tubarão (wtf? heuheue). Não perde em nada para os do Romero.

Antes do Amanhecer (Richard Linklater, 1995) - 10


Esse aí fazia um bom tempo que eu não revia, e a imagem que tinha é que era ótimo, mas o segundo tinha uma consideravel vantagem em relação a esse, e que foi apagada agora. Na verdade o filme continua sendo "inferior", tanto nos diálogos, que por vezes são jogados de uma forma pouco natural, na tentativa de impressionar com uma filosofia pseudo seiláoque, quanto no desfile da câmera, que dessa dessa vez passeia por cenarios bem menos elegantes, com enquadramentos bem menos elegantes e etc. Na verdade aqui temos atores mais imaturos, um diretor mais imaturo, personagens mais imaturos, e um filme, consequentemente, bem mais imaturo, o que é perfeito pro contraste de tempo que um tem do outro. Na verdade isso tudo é essencial, até pra termos não só uma melhor noção da passaem de tempo, mas sim da evolução existencial de cada personagem. E esse contraste de "maturidade" de cada filme, só intensifica ambos, de forma distintas: o primeiro fica parecendo um romance mais puro, ingenuo, com preocupações imediatas, tipica da adolesência, já o segundo carrega todo um arco dramático de "por onde minha vida foi, pra onde minha vida vai..?" e etc, que seria totalmente incoerente aparecer no primeiro. Na verdade acho que é isso, um é um filme bem mais imaturo e o outro mais maduro, e nem poderia ser diferente. Perfeitos.

3 Homens em Conflito (Sergio Leone, 1966) - 10/10


OP do caralho essa. Todo mundo que fala desse filme fala da cena final, no cemitério, e nem tem como deixar ela de fora mesmo. Não é só uma das melhores cenas do cinema, é apenas a melhor. O clima que o Leone cria é algo de outro mundo, pensando agora ele deve ter ficado uns 5 minutos apenas filmando o olhar, o coldre, as mãos, a arma, etc, dos 3 se encarando, e aquilo em momento algum se torna cansativo, maçante ou algo do tipo; mas também se eu pensar de novo, talvez aquela cena tenha apenas 1 ou 2 minutos, e a tensão e empolgação que ela despertou em mim possa ter feito eu ter criado uma falsa perspectiva do tempo, achando que tudo ali é mais longo do que realmente é. O ponto é que eu nem sei quanto tempo dura aquela caralhisse lá, mas foi algo marcante, foi mais ou menos o ápice do cinema, não acho que a sensação causada naquela cena possa ser superada em algum outro filme, talvez igualada, só, e talvez. Clint Eastwood, quando morrer, se é que a morte vai ter coragem de tentar alguma coisa com esse cara, tem que ter escrito em sua lápide a seguinte palavra: imponência. É a melhor coisa que pode o definir, não existe outro ator que tenha uma presença tão marcante e intimidadora quanto a do Clintão, é como se a câmera se encolhesse diante a presença dele, e todo o cenário envolta parecesse menor quando ele está em cena, na mesma perspectiva que tudo parece menor quando temos um gigante ao lado. E Aquela trilha... Óh Deus, Óh Deus.

A Outra (Woody Allen, 1988) - 10/10


O filme mais perturbador, angustiante, sufocante do Allen. Em uma das poucas vezes que ele tentou copiar Bergman, conseguiu até o superar. Ficamos prisioneiros das confissões dos personagens, é como se as palavras não saíssem da forma convencional da tela, mas sim como se estivessémos escutando escondidos por de trás da porta. A voz delicada, doce, e extremamente melancólica da Mia Forrow, só não emociona mais do que a expressão de extrema angustia da Gena Rowlands, como a de alguém que descobre o quanto sua vida - apesar de estável financeiramente, profissionalmente e etc - foi desprovida de sentimentos. Essa é pra mim a experiência mais arrebatadora no sentido reflexivo dos caminhos que poderíamos ter tomado: como seria se tivesse feito isso, e não aquilo; se tivesse ficado com aquele(a), e não esse(a). etc. Marion é a personagem mais interessante que o Allen ja criou, a mais cativante, tridimensional. Uma mulher que vive de lembranças, que vive em uma eterna melancolia que nem ela sabia estar. Não que ela desejasse amor ou paixão, ela apenas tinha esquecido de como era, e só foi reviver a vontade de sentir novamente esses desejos depois de perceber o quão "tarde" era. Quando as lembranças já não eram mais suficientes. Existe uma certa frase no filme que define bem o sentido disso "lembranças são experiências que guardamos ou experiências perdidas?" ou algo assim.Woody Allen é o melhor roteirista de todos os tempos, eu já não tenho duvida disso. Aqui é onde ele transborda toda sua genialidade dramática, existe inúmeros diálogos onde os efeitos são devastadores, como esse"Agora que a minha vida chega ao fim, só tenho coisas pra lamentar. Lamento que a mulher com quem partilhei minha vida, não tivesse sido a que mais amei. Lamento que não haja amor entre meu filho e eu. A culpa é minha" etc. E a atuação da Gena Rowlands é uma das melhores de todos os tempos. É o Morangos Silvestres do Woody, e funcionou muito melhor comigo.

Tiros na Broadway (Woody Allen, 1994) - 9/10


A impressão que tive é que o Allen quis fazer uma peça dentro de um filme dentro de um outro filme. É como se a peça ditasse o ritmo da realidade dos personagens, que por sua vez é uma realidade completamente cinematográfica, com atos bem divididos, personagens bem definidos, diálogos criados para causar impacto cômico, etc, assim como os da peça teatral. A realidade vai se alternando na mesma proporção que a peça também vai, tornando todo o universo do filme algo propositalmente cinematográfico. É como se fosse uma peça de teatro dramática dentro de um filme de gangsteres que por sua vez está dentro de um filme de comédia. Uma grande brincadeira metalinguística do Allen, uma salada de estilos hiária mesmo, entre os mais engraçados do cara. Os melhores momentos são da Diane Wiest e Jennifer Tilly. E o Cusack caiu como uma luva pro papel.


É como se fosse o Barton Fink com Goodfellas dos Allen. :B


"Don't speak, don't speak! Don't don't don't...don't speak!"


huhauhauahua

Memórias (Woody Allen, 1980) - 10


Existe uma frase em A Outra (do Woody também), onde a personagem questiona se “lembranças são experiências que guardamos para sempre, ou experiências perdidas”. E é com isso (também) que o Woody Allen flerta nesse aqui, do quanto somos prisioneiros dos momentos que consideramos os melhores da vida, e a incapacidade de oportunizarmos viver algo semelhante com outras pessoas devido ao pensamento pessimista de que nada vai superar o que já passou, e ninguém superar quem já se foi. Ele transforma as memórias nesse filme como correntes presas pelo pescoço com uma bola de aço na ponta, o sentimento de nostalgia aqui é tratado como uma sentença, como um peso que somos obrigados a carregar e impossível de se desfazer, que nos impede de tentarmos criar qualquer tipo de sentimento semelhante no futuro. E ele faz isso no meio de muitos risos, muita autocrítica, já que não são raros os momentos em que personagem questiona, sempre de forma ácida, o quanto pseudo são suas indagações. Mas nem por isso o filme perde o gosto amargo que deixa na boca.


Mas algo que não se pode deixar de comentar quando se fala em um filme como esse, é a forma GENIAL que o personagem encontra para rever seus momentos. De uma forma totalmente inesperada, como uma caminhada sem aparente significado, ou no meio de uma multidão de entusiastas pelo seu trabalho, ele começa a relembrar pequenas passagens de sua vida, e muitas vezes as confunde com a própria realidade vigente, e em algumas outras, até mistura lembranças que aconteceram em ocasiões diferentes, com pessoas diferentes, em um único momento, transformando em uma pensamento inteiramente novo mas não menos nostálgico, e, por certas vezes, deprimente. Coisa de GÊNIO.

Corpo Fechado (M. Night Shyamalan, 2000) - 10


A maior parte do filme trata da batalha interna de David para acreditar e aceitar o que é. Outra na descoberta de seus poderes, e, finalmente, isso sendo posto em prática. É o indiano trazendo o fantástico mundo das HQs para um universo frio e descrente. Quando o assunto é A Dama na Água, muito se fala na capacidade que precisamos ter de desvinculamento com a realidade, para só assim conseguirmos entrar no universo do filme, e se conseguirmos isso, a experiência é muito gratificante. Em Corpo Fechado, apesar de o principio parecer o mesmo, não é. Aqui Shyamalan pede uma coisa muito mais ousada: ele não quer que o fantasioso e a realidade trabalhem em vertentes diferentes, que se exclua uma para acreditar na outra, na verdade aqui ele torna ambas dependentes e possíveis no mesmo universo. Temos nossa realidade fria e cruel, com vendedores de drogas em estádios, assassinos pedófilos, racismo, etc. E em contra partida, heróis e mocinhos, super poderes, identidade secreta, ponto fraco e etc. O filme não tenta criar um universo próprio que se espelhe no nosso para fazer criticas ao ser humano ou coisa do tipo, ele apenas implanta elementos fantasiosos e os torna completamente possíveis se a pessoa tiver o mínimo de mente aberta. Na verdade para se acreditar nisso não seria o “mínimo” que precisaríamos, mas muito mais que isso, só que o mínimo torna-se suficiente devido à direção fantástica do Shyamalan e a forma completamente segura que ele acompanha cada frame do seu filme. Na verdade nós começamos a acreditar muito mais fácil que David Dunn realmente é um super-herói no nosso mundo, do que ele próprio.


Shy coloca dois “representantes” seus no filme, duas pessoas que estão dispostas a acreditar no inacreditável, e que estão dispostas a qualquer coisa para provar sua certeza: Josph, filho de David, e Elijah. Ambos estão “aptos” a acreditar por não terem ainda criado raízes com a realidade que os cerca. Joseph, por possuir a genuína ingenuidade infantil, e Elijah, por ter sido excluído da sociedade devido ao seu problema físico e ter se encarcerado em universo fantástico que são seus gibis. Nenhum dos dois realmente tem certeza se David é mesmo um super-herói, mas ambos se jogam de cara nessa possibilidade, que se verdadeira, faz toda a vida ganhar um novo sentido. Elijah e Joseph, apesar de diferentes, se assemelham na vontade que ambos sentem de escapar do universo que os cerca. Joseph, por estar na fase de transição, na parte onde a criança começa a virar adolescente, e logo adulto, fazendo com que seja jogado na realidade escrota que é nosso mundo, onde não existe magia, não existe o fantástico, não existe nada. E Elijah, não passa de um adulto que se recusou a crescer. Sem espaço na sociedade e sem espaço no mundo. Pra ambos David é a salvação, uma forma de acreditar em um algo a mais. Joseph foi capaz de apontar uma arma para seu próprio pai para conseguir provar sua teoria, e Elijah capaz de matar centenas de pessoas apenas para encontrar seu salvador. O filme fala de pessoas que querem encontrar seu significado, de super heróis e etc. Mas acho que a mensagem mais forte aqui é o desespero que sentimos para acreditar que a vida não é apenas o que passa diante os olhos

Diário dos Mortos (George A. Romero, 2007) - 9


Um recomeço pra série, mas sem abandonar o que ele havia iniciado em Night. Na verdade o principio é o mesmo: os mortos levantam do nada e começa o banquete ininterrupto. Sem mais explicações. E como nenhum filme do Romero é feito apenas para vermos a carnificina rolando solta, a habitual critica dele aqui continua afiada como sempre. Se em Despertar dos Mortos somos rebaixados ao nível literal de mortos vivos, pessoas corrompidas pelo consumismo que vagam sem motivo qualquer por um shopping center; e em Dia dos Mortos ele brinca com o rigor injustificável do militarismo, de ao em vez nos sentirmos protegidos nos sentimos muito mais ameaçados... Nesse aqui a birra vai para passividade e frieza humana diante das barbáries que vemos pela tela da TV, monitor ou qualquer coisa do gênero. Como na maioria dos filmes filmados com a câmera em primeira pessoa, o personagem que a carrega não foge do estigma de “o idiotão que vai ficar filmando tudo sem qualquer motivo aparente não importa o que aconteça”, mas ao contrário da maioria, essa é justamente a intenção do Romero, já que esse idiotão é justamente o nosso reflexo. É como se ele usasse a tela da câmera como uma espécie de escudo para o sangue que jorra das pessoas, como se ele estivesse em um mundo alternativo, onde encarna um espectador passivo da situação para tentar se redimir da culpa do que acontece a sua volta, igual a quando vemos protegidos pela tela da televisão milhares de pessoas morrendo por guerras, passando fome e etc. Cada morte se torna apenas mais uma morte.Mas criticas a parte, o filme é tenso pra caralho. Já no inicio, quando o personagem encarregado de segurar a câmera está filmando um filme caseiro, chegamos a conclusão de que ele não é um brilhante diretor, e o Romero usa o filme todo pra brincar com isso. Ele cria uma atmosfera absurdamente tensa e assustadora e joga o sujeito da câmera no meio dela no sentido de “vá lá, se vire”. É como se um diretor medíocre ganhasse uma ingresso para visitar o inferno na companhia de sua câmera. Claro que esse inferno é criado pela genialidade do Romero, então é como se existissem dois filmes: o Romero tocando o inferno por onde passa, e o cara filmando esse inferno.Poderiam até criar uma nova trilogia com esse recurso em primeira pessoa, fica a sensação de que muita coisa legal pode ser mostrada desse jeito. E o filme tem um dos suicídios mais geniais da história, hilário mesmo.

A Primeira Noite de Um Homem (Mike Nichols, 1967) - 9/10


Não sei quem já leu, mas na introdução da primeira parte da saga The Dark Tower, Stephen King fala sobre “ter 19 anos”. Ele falou que nessa idade, depois de ler Senhor dos Anéis, foi quando decidiu que queria criar o romance popular mais comprido da história. Mais comprido apenas, sem qualquer sinônimo de qualidade. Ele sabia disso, e não entendia o motivo dessa sua obsessão, apenas queria, e isso o bastava. Falou também que essa é a idade perfeita para sermos arrogantes. Que o mundo é que deveria ter cuidado com nós, não o contrário. Que nessa idade somos capazes de fumar TNT e beber dinamite.Que é o momento em que nos tornamos mais confiantes, tanto emocionalmente quanto fisicamente, e que nessa idade ainda não notamos qualquer vestígios das subtrações que certamente nos esperam, e nem nos importamos com isso. É a melhor idade. Ele queria criar o maior romance de todos os tempos, tinha arrogância o suficiente pra isso aos 19, mas só começou a fazê-lo nos 22. O maior, que não significa o melhor. Infelizmente geralmente é assim (não no caso do King, que apesar de não ter atingido o objetivo de escrever o maior, pelo menos conseguiu o melhor, pra mim), e essa fantástica idade é a que passa mais rápido. Começa nos 18, 19... E vai até os 22, 23... 24 (pra quem tem sorte). Temos pouco mais ou pouco menos de 5 anos para poder nos equipararmos com Clint Eastwood ou qualquer outro fodão que exista. Depois começamos a virar homenzinhos com responsabilidades de homenzinhos. E desse momento em diante fode tudo.


Benjamin tinha 21 anos, ele sabia que essa fase estava passando, e em branco. Ele não era do tipo que aparentava ter bebido dinamite na escola ou faculdade. Ele era do tipo bom aluno, que se dedicou inteiramente aos estudos, e aos 21 anos já estava preparado para virar homenzinho. Claro que ele não queria isso, na verdade ele não sabia o que queria. Na verdade talvez ele queria qualquer coisa, menos isso. Ele queria ainda criar a sua torre, queria era comer a sra. Robinson. E foi o que fez, o verão todo.Não querendo subestimar o poder de sedução da sra. Robinson, claro que não, mas quando Benjamin ia toda noite praquele quarto de hotel o prazer que ele procurava não era necessariamente o que depositava no meio das pernas da esposa do sócio do seu pai, mas sim de estar fazendo algo que não deveria estar fazendo, que só se torna perdoável quando passamos por essa transição de idade ao qual ele tinha desperdiçado esses anos todo, que já estava chegando ao fim. Ele comia a sra.. Robinson ao em vez de trabalhar ou estudar. O verão passava e nada mudava. De dia na piscina, a noite comendo a sra. Robinson. Sexo, sexo, sexo, toda noite. Sexo com uma mulher casada e com família. Sexo ao em vez de proseguir com sua vida profissional. Finalmente ele estava aproveitando a idade. Estava fazendo o que não se deve fazer, mas tudo bem, já que ele ainda não era um homenzinho.


Sexo sem propósito não cansa. Por mais que digam o contrário, não cansa. Mas Benjamin já estava em uma nova fase, podia arriscar mais. E é aí que surge Elaine. Trocar sexo por amor é mais arriscado, com certeza. Principalmente se esse amor for da filha de quem você fez sexo o verão todo. Mas foda-se, você ainda não é um homenzinho pra se preocupar com isso. E troca-se o sexo pelo amor. Como ele sabe que é amor se apenas comeram hambúrguer e batata frita juntos uma vez? Ahh... Na verdade é sobre isso que se trata o filme, não sobre despertar de paixões ou putarias do tipo, mas sobre um cara que não quer fazer porra nenhuma, que quer evitar o máximo entrar no trilho já pré estabelecido para sua vida de comedor de lagosta em mesa de mármore. Ele quer é sair por aí e botar o diabo por onde passar, só por mais um tempinho. Os trens passam de 15 em 15 minutos, pegar o próximo não vai fazer tanta diferença, já que ele tem apenas 21 anos, e quando finalmente embarcar, não tem volta. Mais 15 minutos.


Claro que Elaine descobre o que ele fez no verão. Claro que ela da um chute nele e os seus pais o impedem de ver a garota. E claro que ele ta pouco se fudendo pra isso, já que ele tem apenas 21 anos. Mas mesmo descobrindo que a garota está para casar, isso não o desestimula de tentar recuperá-la. Benjamin entra no seu carro, atravessa o estado e parte pra batalha épica que o espera. E o final do filme é uma explosão. Ele tinha um plano: chegar na igreja, resgatar a donzela, e sair correndo pela estrada. Era um brilhante plano, que alguns litros a menos de gasolina não o impediriam de realizá-lo. E ele chega na igreja. Lá já não existia apenas a donzela. Existe o também já marido dela, os pais, que ganharam características vilanescas, e todos os outros zumbis que vieram presenciar o ritual demoníaco que estava acontecendo. Todos eles contra Benjamin e Elaine, que precisou de apenas alguns segundo para se entregar de vez ao herói que veio salvá-la (ela devia ter 21 também).


Naquela hora Benjamin finalmente se tornou o Clint Eastwood. Ao em vez de duelar contra vilões previsíveis que depositam suas motivações em um saco de ouro, duelava contra sugadores de almas que já não viam perspectiva alguma para seus futuros e tentavam arrancar qualquer vestígio disso dos outros. E em vez de um revolver, nada mais simbólico que uma cruz pra espantar esses coisas ruins. E Benjamin e Elaine escapam, deixando todos presos na sua caixa de infelicidade, contorcendo-se e espumando de raiva.


Já no ônibus, os dois seguem calados pela estrada. Elaine chega a se virar para o lado e olhar para Benjamin, com a intenção de receber alguma palavra de conforto, mas nada acontece. Claro que não, ele ainda está deslumbrado pelo incrível feito que acabou de realizar, o amor é forte, mas o que ele fez dentro daquela igreja é muito mais. E, além disso, puta que pariu, amanhã é dia de procurar emprego. Agora com esposa etc, era hora de finalmente tornar-se homenzinho. Mas é só olhar pra expressão dele, valeu a pena.


Idade foda essa.

F for Fake (Orson Welles, 1973) - 10/10


Não existe obra mágica. Um quadro, por mais maravilhoso que seja, é apenas um amontoado de cores contornados por uma mão. Se uma outra pessoa utilizar os mesmos amontoados de cores e contornos de mão, a obra torna-se tão real quanto a original. Á mágica é criada internamente pela pessoa que enxerga, qualquer estimulo externo é apenas estimulo. O falso e verdadeiro se confundem, tudo que é falso é verdadeiro, e tudo que é verdadeiro é falso, e ambos são ambos. Somos apreciadores de formas, imagens, etc. Criamos significados para elas que elas realmente não possuem, pelo menos não isoladas. Criamos uma mentira para uma forma, para criarmos uma verdade para nós. Nos deixamos enganar pela nossa própria mentira para conseguirmos torna-la verdadeira. Orson Welles brinca o tempo do quanto somos reféns voluntários da mentira. Se não fosse isso nada teria sentido, inclusive o cinema. Ele cria a maior mentira da história do cinema, para criar o cinema mais verdadeiro da história, a síntese do que apalavra “cinema” representa. Falam muito de Cidadão Kane, mas a obra máxima do cara é essa aqui, com certeza. E nem preciso ver os outros pra saber disso. :B

Os Indomáveis (James Mangold, 2007) - 9


Caralho, que filme foda! O personagem, atuação, etc do Russel Crowe é uma das coisas mais interessantes que vi no ano. Um cara que banaliza a morte mas parabeniza os principios, mesmo que sejam totalmente opostos aos dele. Um assassino com caráter que admira quem tem a coragem de se manter puro no mundo onde vive, mesmo esse sendo totalmente impróprio pra isso. A sequência final onde o Russel ajuda a se auto-sequestrar até a ferrovia é a cena mais empolgante do ano, e um dos melhores momentos também. Junto a No Country, o melhor western da década.

Sangue Negro (Paul Thomas Anderson, 2007) - 8


Me surpreendi bastante. De uns tempos pra cá me tornei menos fã do cara do que imaginava ser, na verdade os filmes dele não envelheceram nada bem na minha cabeça nem nas revisadas, não sei se vai ser o caso desse aqui, mas acho bem difícil. A atuação do Day Lewis com certeza é a melhor coisa do filme, a atuação, antes mesmo do que o personagem. A impressão que tive quando chegou mais ou menos na metade é que já sabia tudo do personagem, o Day Lewis de tão monstruoso conseguiu sintetizar em poucos minutos toda a essência dele, aliás, acho que no primeiro discurso onde ele reune o povo para falar dos beneficios de o contratarem já da pra sacar qual é a do cara: o sujeito que é movido pela ganancia, não consegue se vincular afetivamente com ninguém e inevitavelmente vai acabar como amante de seu poço de dinheiro, sozinho. O problema é que isso fica muito claro em poucos minutos, o que faz com que algumas partes pareçam mera encheção de linguiça, e fora isso o Anderson opta em certas partes por explicar a personalidade do personagem, o que é totalmente desnecessário, já que a atuação do Day Lewis, as atitudes dele e o desfecho deixam bastante claro, o que tira e muito o brilho do personagem (não do Day Lewis). Mas mesmo com esses probleminhas que me incomodaram um pouco, o filme não se torna cansativo graças a direção ótima do Anderson (cada enquadramento que pqp, ta entre as coisas mais lindas do ano), e, de novo, a atuação do Day Lewis. Por mais que o personagem fique extremamente óbvio, todos os momentos que ele está em cena é um espetáculo de atuação.


Gostei também do carinha que faz o Eli e a atuação histérica dele, principalmente aqueles gritinhos afetados, que me pareceu ser a maior tiração de sarro com a própria igreja, que mesmo o personagem sendo tão ganancioso quando o do Day Lewis, é ao mesmo tempo extremamente patético e humilhado em praticamente todas as cenas em que aparece (de novo, a explicaçãozinha final não precisaria existir para sabermos disso).


Mas o final final, na sala do boliche, onde acontece aquela perseguiçãoizinha hilária com bolas sendo arremessadas e tudo mais... pqp, me lembrou muito Kubrick aquilo. Outra ponto alto que achei foi o humor, o filme em grande parte é muito mais engraçado do que dramático, o que ajuda a fluir melhor já que o discurso é meio repetitivo.


Enfim, extremamente bem dirigido e com uma atuação fenomenal, inesquecível. Já virou meu preferido do diretor.

Blow Out - Um Tiro na Noite (Blow Out / Brian De Palma, 1981) - 10/10


É isso aí que tava faltando pra eu me interessar na filmografia do cara, agora quero tudo. Que começo ducaralhu, aquela perspectiva em primeira pessoa do sujeitão invadindo aquela republica feminina. E que fantástico o bandidão na cena da estação pegando a puta e fazendo aquilo lá sem motivo algum. E o John Travolta captando os sons na ponte, e depois recaptando com o lápis... E aquele grito final junto com a expressão final é a coisa mais foda do filme. E esse Brian De Palma é um monstro filmando.

Um Beijo Roubado (My Blueberry Nights / Wong Kar-wai, 2007) - 7/10


Nhé, legalzinho. Meio irregular, com algumas histórias mais interessantinhas, outras já nem tanto, outras mais bonitinhas, e uma até relativamente triste (a do David Strathairn, que sei lá como, consegue estar ótimo e péssimo em determinados momentos do filme). E a Rachel Weisz, pra variar, rouba a cena sempre que aparece, mesmo sendo muito pouco. Tem alguns diálogos bons, mas a maioria é bobagem pretenciosa disfarçada de despretenciosa. Mas o carisma dos personagens chega a compensar, o romancezinho principal é bem fofo até, e a trilha combina bem. Aliás, tem horas que o filme parece um videoclipe gigante. E a câmera desfocada em praticamente 100% do filme da um efeito legal.

Carrie, A Estranha (Carrie / Brian De Palma, 1976) - 10/10


Totalmente surtado e pervertido. A tomada inicial no vestiário feminino, com aqueles corpos nus pulando, peitos, pelos... pra todos os lados, é uma maravilha. E a trilha acompanha o paraíso que o De Palma filma, quase como uma orquestra de luxuria, é fechar os olhos e se imaginar ali no meio, comendo uvas das mãos das pirainhas colegiais. E logo em seguida vemos Carrie, e sangue, e aquelas bucetinhas peludas mostrando que podem ser tão demoniacas quanto são excitantes. Carrie White é uma santa, é daquelas pessoas que se tivessem nascido há séculos atrás, hoje estaria sendo discutida em livros de religião, assim como Maria, Moisés ou Jesus. A cena final é praticamente uma releitura da crucificação: Carrie ensopada de sangue, na frente de uma multidão de alucinados. São as pessoas transformando uma santa em um demônio, de novo. Só que ao em vez Jesus gritar para perdoa-las, tivesse tirado uma metralhadora das costas e começasse a fuzilar todo mundo. Se não há lugar para uma santa, então que toque o diabo, e é isso que Carrie faz. O De Palma devia ta mordendo os lábios, com uma cara de pervetido e batendo punheta enquanto filmava o massacre final todo, que é docaralho.


Mas o maior demônio aí não é Carrie, não é a mãe dela, e muito menos as colegiais. A coisa mais demoniaca do filme é esse fdp do De Palma filmando.

Os Chefões (The Funeral / Abel Ferrara, 1996) - 10/10


Totalmente focado nas consequências psicológicas do depois de puxar o gatilho. Meio parecido com Match Point ou O Sonho de Cassandra até, nesse sentido, só que esses mostram o lado da experiência imediata e de pessoas comuns que são obrigadas a encarar as consquências do ato, ao terem que se conformar com o novo status que a vida ganhou, etc, aqui mostra o lado profissional, de quem fez, faz, e sabe quais são suas perspectivas para o futuro. Na verdade o fime mergulha nessa proposta, quem puxa o gatilho abdica de qualquer vislumbre possível que não da vida atual. Um puxar de gatilho é muito mais que um possível acerto de contas com algum possível comandante divino ou coisas do blá,blá, mas sim a necessecidade de ter que inverter toda lógica humana de preservação, de ser obrigado a enxergar a finitude como uma “benção”. Quem puxa o gatilho é praticamente obrigado a rezar (com todos os paradoxos que isso pode causar) para que quando chegue a hora de fechar os olhos a única coisa que passe diante deles seja a total escuridão. Não é questão mais de acreditar ou não em Deus, é torcer para que ele não exista, viver em um ateismo forçado ou se conformar com o acerto de contas - mais ou menos como uma criança que é obrigada a escolher entre duas notas que não sabe o valor, escolhe uma, compra tudo de bobagem, e depois quando acaba pensa “pqp, será que eu podia ter gasto mais com a outra?” ou algo do tipo, ela nunca vai saber, gastou e acabou. E cada um deles se conforma com o caminho que tomou, mesmo que forçadamente.


O personagem do Chris Walken (pqp, hein) é quem filosofa mais com essas questões, ou externiza mais. É mais ou menos como se a vida tivesse dois valores extremos, na mesma proporção: extremamente banal, quando não são ligadas ao seu ciclo, se morrer dez mil palestinos são apenas 10 mil palestinos a menos, que não significam nada pra eles, já que o fato de terem quebrado possívelmente a regra maior, lhes da a possibilidade de adquirir uma insensibilidade justificável em relação a qualquer outra pessoa “porque se preocupar com quem não lhe interessa já que você está condenado mesmo?”; e por outro lado, a perda da vida de alguém próximo atinge diretamente a sua vida própria, sua única vida, fazendo com que a dor seja extremamente maior. E isso pode ser aplicado também ao personagem do Chris Penn (pqp, hein). Por isso a morte do irmão pesou tanto, é como se todos os sacrificios que eles fizeram até ali, tudo que tiveram que abdicar, fosse por nada. Como uma prostituta que aceita um sexo anal por 20 dólares, pega aids, e tem o dinheiro roubado na próxima esquina, é ter se corrompido, vendido a alma, por muito pouco. O que valeu cada puxada de gatilho se no final eles estão presos em uma vida onde uma das pessoas que mais amam não está mais? E sem a possibilidade de pensar em outra. O filme não fala do funeral óbvio, do irmão, mas sim de um triplo. E por esse lado o final se torna lindo demais.

Vício Frenético (Bad Lieutenant / Abel Ferrara, 1992) - 10


Um sujeito viciado pelo prazer. Não importa que forma de prazer, se é injetando todo tipo de droga macabra no corpo, ou exceder os poderes da profissão para bater punheta na cara de uma vagabunda qualquer. Um cara que não consegue se livrar do impulso de fazer o que seu corpo deseja, como se fosse um fantoche com vida controlado por um demônio, que desistiu de lutar por suas convicções e agora se entrega totalmente aos seus desejos doentios. Ou talvez se entregue em uma espécie de masoquismo espiritual, de ter tanto nojo de si mesmo e de suas fraquezas em não conseguir resistir as tentações, que decide transbordar sua alma de pecados para que tenha o castigo que ele mesmo não consegue se dar. Sendo que apenas no final ele consegue ir contra isso. É um dos negócios mais sufocantes que já assisti, puta op fudida mesmo. E melhor dos que vi do diretor até agora.

Irmãs Diabólicas (Sisters / Brian De Palma, 1973) - 9


Não tem muito o que falar. É um suspense bem demente até, onde tudo começa a se tornar ridicularmente óbvio. Aquela manjada da pessoa que vê um assassinato pela janela, não tem como provar, e sai atrás de pistas por conta própria. Na verdade até a caçada por pistas é propositalmente ridicularmente wtf, pq até o clichezão da pessoa que entra no apartamento do suposto assassino para procurar pistas é tratado com um certo humor. Só que daí tem um cara que consegue tirar cenas como a dessa imagem, e surta de uma hora pra outra transformando tudo em uma alegoria de bizarrices e enfia a obviedade de antes no cu. Daí não tem como não surtar junto.

Fim dos Tempos (The Happening / M. Night Shyamalan, 2008) - 9


Quando eu vi esse filme pela primeira vez no cinema eu fiquei totalmente sem saber o que falar depois, foi aquela sensação “bah, não é horrível, o Shyamalan sabe filmar e tal, mas...” não sabia o que pensar de pessoas correndo de plantas. Mas a merda é que ele não saía da minha cabeça, não por alguma mensagem oculta que eu começava a desvendar ou algo assim, mas pq eu lembrava das cenas nas casas, dos suicidios, daquela ingenuidade dos personagens, etc... e achava bem agradável (sei lá como definir). Mas ainda tinha essas plantas, essa mensagem de “sozinhos não somos ameaças” e um monte de coisa que me enchiam demais. E aí nessa revisada foi tudo pro espaço e surtei com o que tava vendo (e sério, era hilário demais, eu mal conseguia acreditar).


Existe um certo personagem no filme( que provavelmente não foi interpretado pelo Shy só pq ele não teria a cara cômica que esse exigia), que considera hot dogs subestimados, já que possuem proteinas e não sei o que e é ele (e apenas ele) que nos fala que as plantas estão se rebelando contra os humanos. Parece absurdo no inicio, e ninguém mais adere essa teoria. Ninguém desconfiaria que o que poderia causar essa epidemia suicida seria a mãe natureza em uma atitude de auto preservação eliminando as ameaças do mundo, nós humanos. Mas claro que pra um sujeito que se questiona por que Hot Dogs não são comidos de manhã, tarde e noite, esse tipo de pensamento não se torna algo tão absurdo, e então ele fala que são as plantas as responsáveis, e na falta de uma explicação melhor (ou qualquer outra explicação)


os personagens se agarram a essa possibilidade, e começa então a batalha incessante entre duas raças: humanos contra arbustos. Mas não pensem que será fácil, já que eles têm o vento ao seu favor (filhas da puta!). Enquanto isso nós reclamamos da imbecilidade do roteiro em fazer com que plantas hipnóticas lancem seus pózinhos ao vento fazendo com que nós humanos tenhamos que fugir dele para não cometermos suicidio. Ah sim, mas há outro requisito, apenas sofre as consequências quem esteja em um grupo grande (mas isso não foi o cara do hot dog que falou, isso foi outra teoria lançada por um dos personagens, quando um grupo maior cometeu suicidio enquanto o dele não, já que a única explicação racional (?) para isso seria que as plantas não atacam quando não se sentem ameaçadas, hmmm). E nós continuamos achando imbecil ver plantas assassinas cumplices do vento.Os personagens se agarram desesperadamente há uma explicação qualquer, por mais absurda que seja, apenas para ter novamente o controle da suas vidas “eu vou me matar pq as plantas querem assim”. Eles pensam isso quando estão frente a frente com o desespero da morte, precisam de uma explicação para se sentirem melhores, enquanto que com nós é a mesma coisa, embarcamos no racíocinio deles, de que as plantas estão se sentindo ameaçadas e por isso despejam toxinas seiláoque na atmosfera (de novo, méritos para o cara do Hot Dog), apenas para termos novamente o controle do filme. Acreditar nesse absurdo faz com que você tenha as redeas novamente, e assim consiga malhar com mais propriedade. Não basta o filme ter cenas fantásticas como as dos corpos caindo da construção,ou da arma que vai passando de mão em mão, ou do carro com um rasgão no teto,ou da casa da velha, ou da casa do sujeito com a 12, ou ver pessoas fugindo delas mesmas com medo do que possam fazer a si próprios, ou até correndo do vento achando que plantas estão lançando toxina nele (isso não é engraçado pq achamos que eles estão certos, caso contrário o filme fica sem explicação) etc. Aquela explicação das abelhas no início do filme parece mastigadinho demais “pra onde foram as abelhas? Importa pra onde foram as abelhas?” etc, mas é isso mesmo. É o trabalho mais egocentrico do Shyamalan, uma birra com todos que reclamavam de seus roteiros, tipo A Vila, Sinais etc “eram ruins? Ok,o que será que vão dizer de plantas assassinas, hein?”. Quando falam que a intenção do Shyamalan era realmente fazer um filme B, ou um filme ruim, eu discordo, o que pareceu pra mim é que ele faz de tudo pra desviar os olhares, fazer com que você preocupe com uma coisa que é extremamente imbecil, enquanto poderia apenas curtir idiotas fugindo de si próprios morrendo de forma extremamente original. É mais ou menos o oposto com o que ele costuma fazer com os outros filmes, onde é sempre criticado por seus roteiros, por suas pretensões na mensagem, aqui ele faz o oposto, faz com que você fique tentando bancar o Sherlock para descobrir o pq de tudo aquilo, enquanto que o que realmente interessa está pulsando na tela. É mais ou menos o chute do balde do Shy. Cada cena envolvendo um suposto ataque de planta ele trata com um to irônico, as vezes aumentando a trilha de uma forma totalmente desproporcional, ou com algum diálogo hilário (pra alguns involuntariamente, pra mim bem voluntário), e até imagino ele se deliciando ao ver críticas que apontam que é idiota ter plantas assaim no filme (e não falo isso como sendo positivo, acho ele bem bestão, mas esse humor funcionou comigo nesse, em A Dama não deu muito certo). A intenção é totalmente idiota (no sentido de “pegadinha para crítico que me crítica”) mas o resultado foi visualmente fantástico.


Mas quado o assisti pela primeira vez o que eu mais estranhei foi o aparente descaso do Shy com os personagens. Se pegar qualquer outro dos seus filmes anteriores, ele os tratava com total admiração, respeito, ficava evidente que ele adorava cada um deles (o garotinho do sexto sentido, o cara do corpo fechado, a bryce, etc) e nesse aqui ele pega dois tipos totalmente wtf, pelo menos foi o que pareceu pra mim no ínicio. Agora até isso já considero um acerto, ele pega os próprios protagonistas pra alivio cômico, não se preocupa em coloca-los em situações idiotas (como a fala com a planta, ou a mulher no filme todo, ou até correndo do vento), usa díalogos cheesy (o que não é propriamente uma novidade na carreira do Shy,mas enfim), em dois adultos de uma ingenuidade tão infantil que chega a ser agradável (pelo menos funcionou comigo agora). Enfim, essa revisada fez extremamente bem pra mim,considero a cena da velha se suicidando uma das melhores da carreira do cara, e esse aí já entra pros meus preferidos junto com Corpo Fechado, Sinais e A Vila.

Cão Branco (Samuel Fuller, 1982) - 10/10


Pqp, que op fudida! Incrível a câmera desse sujeito, cada enquadramento, a câmera lenta... É um dos negócios mais bem filmados que eu já vi. Fora que intensifica o suspense nos impossibilitando de torcer contra o monstro. Não é aquele negócio que vários outros fazem, de criar um serial carismático que faz com que a gente se embale nos surtos dele, aqui é um negócio muito mais complicado, é um negócio de acompanhar os crimes e não saber ao certo quem realmente é a maior vitima, quem pratica ou quem recebe. Ele filma o cachorro com um respeito absoluto, transformando o bicho em um demônio na hora dos ataques mas sem deixar de evidenciar a inocencia dele. Totalmente angustiante as cenas, coisa de quem sabe filmar mesmo.

Paranoid Park (Gus Van Sant, 2007) - 9


Muito bom. Sem muitas baboseiras, praticamente um passeio pela culpa do guri. Ótima a forma que ele achou pra mostrar o sentimento de mundo desabando, com garoto debaixo da água, o cabelo pesado, aqueles sons enlouquecedores todos.. e depois mudando radicalmente pro silêncio. Muito bem filmado, e mesmo quando resolve acompanhar os skatistas com a câmera, não é aquela coisa chata de Elefante. Som, trilha e fotografia ótima.

Dublê de Corpo (Brian De Palma, 1984) - 10/10


Ninguém brinca melhor com esse negócio chamado câmera do que esse cara, nem tem. E nesse sentido, aqui ele chegou no ápice mesmo.

Na Natureza Selvagem (Sean Penn, 2007) - 8/10


Pelo que eu tava vendo até os 30, 35 minutos iniciais (e tava achando tudo muito ruim), me surpreendi muito depois. No final fiquei com o sentimento que o filme é muito bom, o negócio é que ele podia ser mais que isso se o Sean Penn não fosse de um extremo ao outro de forma tão radical. Existem cenas lindas, visualmente o filme é muito bonito, o problema pra mim foi essa narrativa quase que ininterrupta, que filosofa até quando o guri vai cagar. Existem passagens de muito mal gosto, o negócio é que ele tenta filmar cada cena como se fosse uma pintura, e por muitas vezes ele passa do tom, saturando a câmera lenta, deixando deselegante essa busca por significado e etc. Mas em outras ele acerta em cheio. Aliás, o filme fica constantemente nesse limite, do emocionante ao brega, e oscila demais pros dois lados. O bom é que as partes realmente bonitas, são bem bonitas. Todos as partes com os personagens que ele encontra pelo caminho são interessantes, marcantes, principalmente a final, quando o velho e ele se despedem, e esse pede para adota-lo, para que fosse parte da familia. Aí o Sean Penn acerta em cheio, me lembrou muito o Clintão filmando Menina de Ouro ou As Pontes de Madison, onde consegue impedir que toda a dramaticidade da cena fique um melosão piegas. E a trilha é demais.

Todo Mundo Quase Morto (Edgard Wright, 2004) - 10


Bah, gostei bem mais agora (e já adorava). A cena dele planejando o que fazer, resgatar a mãe, depois a namorada, etc, é muito op. hauhauahuah

Príncipe das Sombras (John Carpenter, 1987) - 10


O mestre sabe das coisas, e o mal vem da igreja. [zeber] E a tia ali em cima é um negóciozinho bem macabro, hein.

Teeth - Vagina Dentada (Mitchell Lichtenstein, 2007) - 2


Huuahuahua, que filme retardado. Bah, como o cara conseguiu estragar um tema que envolve buceta com dentes? Sério, ele não tinha a minima noção do que fazer. Como se uma gostosona nua se oferecesse para um nerd sem braços e pedisse pra ser possuída, seria demais pra ele. Até concordo que o humor seja bem voluntário, mas a involuntariedade aí é que o cara acha que é engraçado, e não é, ou na verdade é, mas apenas pq é totalmente sem graça, sustentado apenas pela presença da buceta com dentes. E na verdade coloca umas aspas aí na presença, já que vou falar, a buceta nem aparece! Mas enfim, mesmo que de forma intuitiva a presença dela ta ali, o que salva um pouco. Mas poxa, podia ser op, e é muito ruim.

Fuga de Los Angeles (John Carpenter, 1996) - 10


É absurdamente fantástico, genial, entre os melhores do mundo. Snake Plissken é sem dúvidas o maior fdp que esse cara já criou. Aqui, muito mais que o primeiro, o filme caminha em um ritmo totalmente pausado, mostrando o personagem com a calma de um western, naquele ritmo lento, sempre intensificando a aura intimidadora dele com uma trilha adequanda e etc. Aliás, ele é muito mais western que qualquer outra coisa, não é exagero algum falar que Snake é o novo Blondie, ou o mais próximo que alguém conseguiu chegar desse. Praticamente um andarilho sem espaço pra vagar: um mundo caótico, sem regras ou leis, apenas movido por impulsos revolucionários; e o oposto extremo disso, onde todos são obrigados a viver em um regime absoluto de regras. E mesmo assim ambos compartilham do mesma merda: o ser humano, seja esse de um regime anarquista ou ditatorial. E o foda-se final é dos negócios mais absurdos do cinema, uma coisa que só um Carpenter teria a coragem de fazer. Enfim, é demais mesmo, aquela cena da quadra de basquete deve ta no top 5 de cenas desse cara (e isso é uma grande coisa). E o ritmo do filme é um negócio sem explicação (não que isso seja algo excluivo desse aqui, é uma constante na carreira do cara, mas enfim, é obrigação comentar).

X-Men 3 (Brett Ratner, 2006) - 8


É muito bom também, só que esse aqui oscila bem mais do que o 2, e os melhores momentos desse também não se comparam aos melhores do outro. Ta certo que é uma suruba de mutantes, sem muito espaço pra desenvolvimento e etc, e o que pra mim nem foi muito necessário, já que nos outros dois isso é feito muito bem. Quem sai perdendo é quem da as caras pela primeira vez aqui, como a guriazinha que atravessa paredes ou o Fanático. Mas enfim, não acho o cuidando com esses personagens tão necessários também, já que o legal deles é o poder mesmo. E putz, o que é aquele anjo? O Fera foi exceção, em poucos minutos já parecia que fazia parte dos filmes antigos. A parte que o Xavier morre é muito boa, e adoro aquele final apoteótico também.


cyclope.. loser [/nelson]

X-Men 2 (Bryan Singer, 2003) - 9


Bah, ficou do nível de HA2 pra mim agora. É coisa incrível a regularidade, a fluídez e etc. Aliás, nesse sentido, não tem nenhum outro filme de herói que se compare a ele. Parece um episódeozão mesmo. E difícil um filme do tipo ter tantas cenas fodonas, como a do começo do Noturno tentando matar o presidente, a invasão da mansão, os policias cercando a casa aquela, aquele final mega foda de etc e etc. Acho que pode ser o melhor filme de HQ, talvez.

Crepúsculo dos Deuses (Billy Wilder, 1950) - 10


A Gloria Swanson descendo aquelas escadas, o close final, rumo ao camarim que provavelmente nunca mais deixaria. E intimidando a câmera de uma forma não menos hipnótica que o Clintão nos filmes do Leone, brilhando mais do que qualquer coisa ali. Como é possível alguém transbordar imponencia e fragilidade, respeito e pena, glamour e mau gosto? e tudo em proporções extremas... É inacredítavel o que ela alcança. É algo, sei lá, hipnótico, explosivo.