Não sei quem já leu, mas na introdução da primeira parte da saga The Dark Tower, Stephen King fala sobre “ter 19 anos”. Ele falou que nessa idade, depois de ler Senhor dos Anéis, foi quando decidiu que queria criar o romance popular mais comprido da história. Mais comprido apenas, sem qualquer sinônimo de qualidade. Ele sabia disso, e não entendia o motivo dessa sua obsessão, apenas queria, e isso o bastava. Falou também que essa é a idade perfeita para sermos arrogantes. Que o mundo é que deveria ter cuidado com nós, não o contrário. Que nessa idade somos capazes de fumar TNT e beber dinamite.Que é o momento em que nos tornamos mais confiantes, tanto emocionalmente quanto fisicamente, e que nessa idade ainda não notamos qualquer vestígios das subtrações que certamente nos esperam, e nem nos importamos com isso. É a melhor idade. Ele queria criar o maior romance de todos os tempos, tinha arrogância o suficiente pra isso aos 19, mas só começou a fazê-lo nos 22. O maior, que não significa o melhor. Infelizmente geralmente é assim (não no caso do King, que apesar de não ter atingido o objetivo de escrever o maior, pelo menos conseguiu o melhor, pra mim), e essa fantástica idade é a que passa mais rápido. Começa nos 18, 19... E vai até os 22, 23... 24 (pra quem tem sorte). Temos pouco mais ou pouco menos de 5 anos para poder nos equipararmos com Clint Eastwood ou qualquer outro fodão que exista. Depois começamos a virar homenzinhos com responsabilidades de homenzinhos. E desse momento em diante fode tudo.
Benjamin tinha 21 anos, ele sabia que essa fase estava passando, e em branco. Ele não era do tipo que aparentava ter bebido dinamite na escola ou faculdade. Ele era do tipo bom aluno, que se dedicou inteiramente aos estudos, e aos 21 anos já estava preparado para virar homenzinho. Claro que ele não queria isso, na verdade ele não sabia o que queria. Na verdade talvez ele queria qualquer coisa, menos isso. Ele queria ainda criar a sua torre, queria era comer a sra. Robinson. E foi o que fez, o verão todo.Não querendo subestimar o poder de sedução da sra. Robinson, claro que não, mas quando Benjamin ia toda noite praquele quarto de hotel o prazer que ele procurava não era necessariamente o que depositava no meio das pernas da esposa do sócio do seu pai, mas sim de estar fazendo algo que não deveria estar fazendo, que só se torna perdoável quando passamos por essa transição de idade ao qual ele tinha desperdiçado esses anos todo, que já estava chegando ao fim. Ele comia a sra.. Robinson ao em vez de trabalhar ou estudar. O verão passava e nada mudava. De dia na piscina, a noite comendo a sra. Robinson. Sexo, sexo, sexo, toda noite. Sexo com uma mulher casada e com família. Sexo ao em vez de proseguir com sua vida profissional. Finalmente ele estava aproveitando a idade. Estava fazendo o que não se deve fazer, mas tudo bem, já que ele ainda não era um homenzinho.
Sexo sem propósito não cansa. Por mais que digam o contrário, não cansa. Mas Benjamin já estava em uma nova fase, podia arriscar mais. E é aí que surge Elaine. Trocar sexo por amor é mais arriscado, com certeza. Principalmente se esse amor for da filha de quem você fez sexo o verão todo. Mas foda-se, você ainda não é um homenzinho pra se preocupar com isso. E troca-se o sexo pelo amor. Como ele sabe que é amor se apenas comeram hambúrguer e batata frita juntos uma vez? Ahh... Na verdade é sobre isso que se trata o filme, não sobre despertar de paixões ou putarias do tipo, mas sobre um cara que não quer fazer porra nenhuma, que quer evitar o máximo entrar no trilho já pré estabelecido para sua vida de comedor de lagosta em mesa de mármore. Ele quer é sair por aí e botar o diabo por onde passar, só por mais um tempinho. Os trens passam de 15 em 15 minutos, pegar o próximo não vai fazer tanta diferença, já que ele tem apenas 21 anos, e quando finalmente embarcar, não tem volta. Mais 15 minutos.
Claro que Elaine descobre o que ele fez no verão. Claro que ela da um chute nele e os seus pais o impedem de ver a garota. E claro que ele ta pouco se fudendo pra isso, já que ele tem apenas 21 anos. Mas mesmo descobrindo que a garota está para casar, isso não o desestimula de tentar recuperá-la. Benjamin entra no seu carro, atravessa o estado e parte pra batalha épica que o espera. E o final do filme é uma explosão. Ele tinha um plano: chegar na igreja, resgatar a donzela, e sair correndo pela estrada. Era um brilhante plano, que alguns litros a menos de gasolina não o impediriam de realizá-lo. E ele chega na igreja. Lá já não existia apenas a donzela. Existe o também já marido dela, os pais, que ganharam características vilanescas, e todos os outros zumbis que vieram presenciar o ritual demoníaco que estava acontecendo. Todos eles contra Benjamin e Elaine, que precisou de apenas alguns segundo para se entregar de vez ao herói que veio salvá-la (ela devia ter 21 também).
Naquela hora Benjamin finalmente se tornou o Clint Eastwood. Ao em vez de duelar contra vilões previsíveis que depositam suas motivações em um saco de ouro, duelava contra sugadores de almas que já não viam perspectiva alguma para seus futuros e tentavam arrancar qualquer vestígio disso dos outros. E em vez de um revolver, nada mais simbólico que uma cruz pra espantar esses coisas ruins. E Benjamin e Elaine escapam, deixando todos presos na sua caixa de infelicidade, contorcendo-se e espumando de raiva.
Já no ônibus, os dois seguem calados pela estrada. Elaine chega a se virar para o lado e olhar para Benjamin, com a intenção de receber alguma palavra de conforto, mas nada acontece. Claro que não, ele ainda está deslumbrado pelo incrível feito que acabou de realizar, o amor é forte, mas o que ele fez dentro daquela igreja é muito mais. E, além disso, puta que pariu, amanhã é dia de procurar emprego. Agora com esposa etc, era hora de finalmente tornar-se homenzinho. Mas é só olhar pra expressão dele, valeu a pena.
Idade foda essa.