sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O que eu achei de Avatar - 6


Quando assisti o filme fiquei sem vontade alguma de escrever qualquer coisa sobre ele. Parte pq não gostei tanto e também pq já tava cheio da superesposição que esse negocionho tava recebendo, daí simplesmente ignorei. Mas na verdade não fiz isso não, pq mesmo sem escrever um texto especifico, acabei discutindo tanto com amigos que tem material o suficiente pra mostrar aqui o que achei. E vou fazer isso pela repercurssão que isso ganhou, pelo expressão de espanto que tu sente nas pessoas quando fala que não acha tudo isso, essa coisa de "ai meu Deus do céu como é possível não gostarem!!!!!????". Daí vem um negócio desses (um negócio comum desses) e se a pessoa não gosta ficam apontando o que tu fez de errado "vc não liberou sua criancinha. vc não abdicou do cinismo. vc não não correu descalço pelo cinema e abraçou um na'vi".


Enfim, ele cria um universo deslumbrante demais pra capacidade emotiva que os personagens dele carregam. pra mim é como se aquele mundo engolisse tudo. que aquele mundo exigisse um desenvolvimento bem mais grandiozo do que foi passado ali. é mais ou menos como se eu visitasse uma palacio banhado a ouro, mas vazio, e na hora que ele fosse destruído eu só tenha como preocupação a possibilidade de deixar um formigueiro no quintal desabrigado. Eu vou sentir muito mais pelo palacio do que pelas formigas. Claro, extremizei agora, não to dizendo que os personagens sejam tão descartáveis assim, mas pra mim são tão genéricos que chegam a quase isso. Quando ele tenta aplicar humor (que é uma forma muito boa de criar o vinculo necessário) comigo falha vergonhosamente, que aliás, é uma boa palavra pra definir, chega a ser vergonhosa essas tentativas. E na hora de desenvolver a idéia central, eu via uma naturalidade nos movimentos, mas uma artificialidade irritante na hora de passar a mensagem, graças ao texto extremamente capenga. E aí já são duas coisas que falharam comigo, duas coisas de muita importância pra criar um vinculo mais afetivo com os personagens. E fora também que acho as caracteristicas de todos ali muito palidas, pouco marcantes. O principal me pareceu um aladdin entediado. O malvadão aquele tem caracteristicas fortes, tanto visualmente quanto na filha da putagem da coisa. Mas também, é tão exagerado que fica difícil realmente odiar, eu achei mais graça. Já o cabeça de tudo é o melhor, gosto daquele ator. Me pareceu que o James Cameron demorou uns 10 anos pra criar o universo que abrigaria a história, e umas duas semanas pra criar todo o resto.


E criando um paralelo com outro filme que curto, Cloverfield. Sempre descartei aqueles personagens, penso neles como simples carregadores de câmeras, alguém ali vai precisar correr por aquela selvageria para servir como meus olhos. Mas as caracteristicas, a personalidade... indiferente. o que interessa mesmo é filmarem a monstro, é me colocaram dentro da catastrofe. Daí se Avatar fosse isso, um olhar mais subjetivo da coisa, de me emprestar os olhos pra eu viver aquele mundo... hummm, fico imaginando que poderia ser coisa bem melhor.

Pra todo aquele mundo se tornar importante primeiro tu tem que se importar com quem vive nele, e é aí que não rolou comigo.

Não é ruim não, mas já virou a coisa mais superestimada desse planeta.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

10 cartazes fodas










Top Michael Haneke



Depois de ver a Fita Branca (ótimo) deu vontade de montar o top desse lunático (e não to brincando, eu realmente acho que esse cara não bate bem).

01. Violência Gratuita original e US - 10
02. Tempos do Lobo - 9
03. A Professora de Piano - 9
04. A Fita Branca - 9
05. Caché - 8
06. O Vídeo de Benny - 8
07. O Sétimo Continente - 7
08. 71 Fragmentos de uma Cronologia do Acaso - 6

E não sei como alguém pode preferir um Funny Games do que outro, são idênticos. Então excepcionalmente, foto das duas versões.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Simplesmente Feliz (Mike Leigh, 2008) - 7,5


Demorou um certo tempo pro filme me conquistar, o modo da personagem se relacionar foi tão fortemente contra ao que eu sou normalmente, que no inicio a personalidade escrachada dela me pareceu até ofensiva tamanha a imbecilidade. Mas o incrível mesmo foi ela ter conseguido reverter isso tudo simplesmente não mudando em nada, mantendo aquele otimismo inabalável mesmo chocando-se contra o que seja. Chega um momento que ela consegue derrubar até os mais cinicos (e não me considero entre esses) que fica impossível não falar "é, ok, eu gosto de ti, bastante".

A Fita Branca (Michael Haneke, 2009) - 8


yeah! e eu curto muito o tema, isso de uma cidade se afogar na própria podridão, se engasgar com ela, de uma forma que tudo está tão inevitavelmente corrompido que a sujeira começa a escorrer pela vagina daquelas mulheres, parindo monstros, reflexos do local.

E no meio de todo aquele mundo cinza ele coloca um pingo de luz com aquele casal fofuti, que destoa de tudo, e que só evidencia ainda mais a maldade do lugar.

Comentamos quando saímos do cinema que ele meio se repete em relação a discurso, e é verdade, o haneke é meio repetitivo mesmo nesse sentido, a carreira toda dele é praticamente fragmentos de uma mesma idéia. Mas a forma é tudo, achei ele aqui de certa forma bem parecido com Bergman, na própria forma de filmar, no peso do silêncio, das expressões, da violência das palavras... Enfim, curti muito.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Guerra ao Terror (Kathryn Bigelow, 2008) - 8,5


Uhum, bem bom mesmo. Não sei bem se é exatamente um filme de guerra, se sim, é bem diferente, pra mim é um filme sobre um cara que usa a guerra como escudo argumentativo pra poder viver da única forma que lhe trás alguma felicidade, algum sentido, e o bom é que não fica enrolando nisso, ele é assim pq é. Ele é necessitado por guerra assim como uma pessoa é necessitada por paz, por ter familia, filhos, leva-los no jogo de futebol aos domingos e etc. Tem quem precise disso pra viver, já ele precisa cortar os fios, cuspir no chão, colocar as bolas por cima do pau e chacoalhar até a testosterona entrar em erupção. Impressão que ele vive constantemente com uma trilha de um rock pesadão invadindo os ouvidos. Claro que ele não ta imune aos podres, não é totalmente insensível, mas antes isso do que viver engessado no outro lado do mundo, escolhendo uma caixa de cereais no meio de trocentas. É direto demais, e isso é muito bom. Isso é uma das coisas mais legais do filme, outra é que essa diretora sabe criar um clima de tensão bom demais. Planos abertões, vários lugares pra se cuidar, a bomba, os gestos de quem os observa ao fundo, tentar enxergar além dos olhos dos próprios personagens... aquela cena dos atiradores na casinha é demais po, dos melhores momentos do cinema esse ano, e todas mesmo em que o cara vai tentar desarmar bomba é de contorcer os dedos. Pensei que ia ser menos bom que isso, gostei muito.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Onde Vivem os Monstros (Spike Jonze, 2009) - 7


Esse filme causou um efeito estranho comigo, o primeiro acho que a palavra mais certa é agradecimento, ao Jonze, por ter conseguido algo que eu ainda não tinha visto no cinema, que é a perfeição em transformar em imagem todo o universo fantástico que é a mente de uma criança, esse universo que não tem limites. Foi uma viagem mesmo ao meu próprio imaginário, de quanto tinha uns 5, 6 anos, da época em que tudo ganhava outra conotação, outra dimenssão, onde formas comuns poderiam ganhar tons fantásticos, onde lugares comuns poderiam se transformar em cavernas, castelos, fortalezas submarinas e etc, e isso sem ao menos precisar fechar os olhos. Onde a brincadeira se torna tão real que por vezes tu se emociona com ela, tu fica com medo dela. E o legal mesmo é que ele não filma isso de uma forma superficial, no sentido de apenas entregar a idéia, não, ele realmente se entrega, ele faz algo semelhante ao Lynch quando puxa seus pesadelos pra tela, só que aqui regressa até a infância e puxa os sonhos (e até pesadelos) da forma mais fiel possível, que é transbordando pureza, que é realmente entendendo o imaginário de uma criança. E monstrando em imagens isso.

E tem o outro efeito que causou em mim, que eu não vou chegar a dizer que é desagradável, mas sim estranho. É o afastamento, o quanto distante aquilo que eu vejo na tela está com o que eu me tornei hoje. Quando eu saí do cinema falei pra minha amiga que se eu tivesse assistido esse filme com os meus 5 anos, seria o filme da minha vida, mas agora, pensando melhor, eu acho que ele é justamente pra quem já passou por isso, uma última oportunidade que o Jonze te da de relembrar o teu inconsciente infantil. E falo relembrar mesmo, não viver, e é por isso que digo que é estranho. Pq tu entra nesse universo com o cinismo que tu adquiriu, um certo cinismo que fica impossível desvincular. Tu sorri enquanto vê eles brincando de guerra de lama, ou construindo uma fortaleza com pedaços de árvore, mas não se emociona da forma que se emocionaria caso ainda fosse uma criança, no sentido de desejar estar vivendo aquele momento. O que tu sente é semelhante a olhar uma gravação antiga tua, criança, em um churrasco de familia, na piscina, etc, só que aqui ele filma o que não poderia ser filmado, o que tu lembra vagamente em ter "passado", em ter "existido", mas não poderia ter sido feito por um registro de câmera. Bom, agora ele fez.

Repetindo, eu ainda não tinha visto isso no cinema. Poderia citar A História Sem Fim como um filme que se aproxima nesse sentido, mas não, o que acontece nesse aqui transcende tudo isso. Esse filme tem que ser respeitado.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Top 2010


Assisti pouquissíma coisa lançada comercialmente esse ano. Então vou atualizando quando assistir algo novo. Por enquanto é isso, e os dois primeiros são sensacionais:

01. Mother (Bong Joon-ho) - 10
02. Zombieland (Ruben Fleischer) - 10
03. Amor Sem Escalas (Jason Reitman) - 8
04. Sherlock Holmes (Guy Ritchie) - 6

Mother (Bong Joon-ho, 2009) - 9,5


Não é melhor que Memórias de Um Assassino apenas pq isso é impossível, mas se aproxima muito. Esse Joon-ho, ele é um ignorante. Ainda ta pra existir um cara que consiga transbordar personagens com tanta intensidade como ele. E esse nem muda muito em relação aos outros que assisti do cara, aqui se troca a família em busca da garotinha na toca do monstro, ou dos detetives em busca do assassino, pela mãe em busca da absolvição do filho. Buscando cegamente isso, assim como em todos os outros, só que não é a justiça que ela busca, apenas a segurança dele, e explora os limites da intensidade desse sentimento, que certamente é dos mais apaixonados que podem existir, provavelmente o mais. Não deve existir pessoa mais capaz que o Joon-ho pra tratar dessa figura, desse vulcão feroz, cego, que pode ser o coração de uma mãe. Ele consegue fazer com que tudo seja perdoado, ou pelo menos apaziguado, colocando esse coração como bandeira, como justa causa. É daqueles filmes que fazem tu sentir por tudo e por todos, a sensação de aperto vem de todos os lados, como se não existisse uma solução, e deixar quieto talvez seja o mais próximo da satisfação que tu possa sentir. Ele cria um monstro e um anjo ao mesmo tempo, faz com que tu odeie e ame no mesmo segundo, as mesmas figuras. É muito talento que esse coreano tem.

À Beira da Loucura (John Carpenter, 1995) - 9,5


Revi finalmente. É tudo mesmo o que falavam, é praticamente o Carepenter pintando um quadro da essência dele e de seus filmes, ou se olhando no espelho, é o cinema dele por definição. Mas não consegue ser melhor que Eles Vivem.