sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O Silêncio do Lago (George Sluizer, 1988) - 10



Qualquer coisa que mexa com esse lance de quebra de destino já faz com que me desperte uma certa curiosidade, já que é um negócio que eu sempre achei interessante, e esse aqui extrapola em todos os limites isso. O filme já destoaria de 99% de outros thrillers que tem por aí pelo simples fato da falta de dúvidas: o assassino já é revelado, o destino da vitima fica totalmente claro e a única coisa que nos resta é esperar um como aconteceu, e acompanhar o mergulho autodestrutivo por respostas de um personagem, e clareamentos sobre a personalidade sociopata de outro, o que só engrandece tudo, já que poupa qualquer perda de tempo em explorar qualquer clichê já exaustivamente explorado em coisas semelhantes. O cara que perde a esposa é interessante, toda a busca alucinada dele, a obceção por uma resposta dominando cada centimetro de músculo do corpo, a incapacidade de se vincular a qualquer coisa que não faça parte do mistério que tenta solucionar, ou distrair, nem que por um segundo, o pensamento sobre isso, é filmada de uma forma absurda, a sensação é que o tempo realmente passou de uma forma diferente pra ele: de uma forma rápida, como se nesses 3 anos não tivesse vivido outra coisa, e ao mesmo tempo sofreu toda a carga de tempo que o drama lhe causou nesse período. E o cara que faz o personagem ta demais. Mas não tem, 90% do filme é o sociopata filha da puta.

Não existe uma razão muito lógica pra ele fazer o que faz, a não ser o simples fato de fazer pq seria algo que ele não faria, seria como vencer a própria vontade e lucidez, como desviar a linha pré estabelicida da vida (que "inevitavelmente" já estava traçada) pra algo novo, destruindo o próprio destino e, consequentemente, o de outras pessoas. Não destruindo de forma literal, mas sim criando um inteiramente novo, como um cara que se forma na faculdade de medicina, já tem uma idéia bem clara do que lhe espera, e muda tudo esfaqueando uma pessoa qualquer na rua. Ele fugiu da vida que teria, venceu o medo dessa mudança, pelo simples conforto de se sentir dono do próprio destino. Evitar ou inevitável, ou algo do tipo. Enfim, é talvez o personagem mais interessante que eu vi no cinema, sem exagero.

E a forma que tudo é filmado é demais. Porra, aquela cena no inicio do tunel, ou o final (que é de uma crueldade absurda)... Bah, um dos melhores filmes do gênero, se não for o melhor.

sábado, 1 de agosto de 2009

Dazed and Confused (Richard Linklater, 1993) - 10


É incrível como existem filmes que estão bem ali, do teu lado, já passaram por ti milhares de vezes, e tu nunca tinha os enxergado com os olhos certos, mas na verdade isso é pq tu nunca sentiu eles do jeito que poderia. Quase como uma guria que tu trabalha ou estuda junto, sempre te dando a maior bola, e tu esnobando, até que um dia ela arranja outro cara, tu começa a notar as coxas dela, a bunda, os peitos, o quanto essa guria era legal e pensa "porra, onde eu tava com a cabeça que não reparei antes?" e vira o amor da tua vida. Sorte que filmes não te trocam por outros caras, mas todo o resto aconteceu exatamente comigo. Eu sempre adorei Dazed and Confused, nunca dei menos que nota 10 pra ele, não encontrei nada de muito novo nessa revisão, os méritos continuam praticamente os mesmos, os motivos que fazem eu gostar também, etc, mas... PORRA! Agora foi devastador, uma nostalgia impressionante. Fiquei pensando aqui, os motivos que podem ter feito ele subir de forma tão radícal no meu conceito dessa vez, e acho que dois foram essências: um é o emocional, óbvio que eu tava muito mais receptivo, muito mais no clima, com uma sensibilidade pra esse tipo de mensagem bem mais aguçada e etc, e outro, principalmente, é o perseptivo mesmo, antes eu via ele basicamente como um espelho da melhor época, um retrato em movimento daqueles momentos fodões que hoje só existem na lembrança, e quanto mais tempo passa, quanto tu puxa na memória, vem sempre acompanhado com um sorriso bobão. E ele continua sendo isso, só que hoje eu vi esse conceito ser aplicado de uma forma bem mais ampla, bem mais generalizadora, não se limitando a ser uma super memória não sua mas muito parecida, mas sim um resgate completo dela com um ligamento do que você é hoje e do que será amanhã. É lindo isso aqui.


O filme não é pra quem vive essa época, o filme é pra quem viveu essa época (e quando falo época, não me refiro aos anos 70, mas sim esse período colegial independente da década que tenha sido). O filme é pra ser acompanhado sempre com o pensamento invejoso de que você já fez isso tudo, sabe como é bom, mas que nunca mais vai voltar. Não tem como dar muitas voltas nisso aqui, ele é o que mostra ser, essêncialmente, ele é a garotada fugindo de uma surra, e tratando isso como um envento mais aterrorizador que a segunda guerra mundial, que te consome por completo.. ele é a gurizada saindo por aí, sem objetivo algum, apenas pq o tempo naquele momento não faz falta, ele nem passa, na verdade... ele é a insegurança de chegar numa guria pela primeira vez, ele é a satisfação de quando se anda com uma turma que tu sempre idolatrou "putz, esses caras são legais, eu sempre quis ser como eles", ele é a sensação de ficar podre de bebado com 3 latinhas de cerva pela primeira vez, e se sentir o rei do universo por isso, ele é a sensação de imponencia, se superioridade, o prazer de intimidar os mais novos e mais fracos apenas pq são mais novos e mais fracos, e você pode fazer isso,ele é fazer qualquer merda na rua em qualquer lugar que tenha, só por fazer mesmo, ele é FESTA o tempo todo, e sempre á caça de gurias e álcool nela!... mas acima de tudo ele é tudo isso sendo visto por quem já passou, por quem sabe que acabou, por quem vê aquela gurizada aproveitando sem ter ainda a noção do que estão vivendo, sem saber o quanto essa fase é mágica - e talvez a única fase mágica da vida - e, inevitavelmente, se questionando se você passou direito por ela. Será que não poderia ter aproveitado mais, se divertido bem mais? Mas aí não vale, se alguém passar por ela com a real dimenssão do que ela representa, seria sem graça. Ela tem que ser vivida por idiotas como nós erámos e como todos ali são, não tem que ser pensada, só sentida, e o filme fode totalmente no bom sentido com isso. E é incrível como o final representa muito bem o final disso, eles no campo do ginásio, deitados no gramado, fumando uma baseado, e ali, quando se dão conta que acabou, tudo vai ficando... sei lá, precioso, e a única coisa que vale na vida é aquele momento e os momentos em que eles se divertiram pra caralho juntos. E porra, aqueles são momentos teus também, pq assim como acabou pra eles acabou pra você também. Até que o dia amanhace, e o tempo realmente passou. Foda. Eu diria até que se tornou meu filme preferido hoje, mas sei lá, vou esperar um pouco.

Two Lovers (James Gray, 2008) - 10


Já no inicio dois caminhos são apresentados: o caminho bom, seguro, correto, que ele mereça (no sentido positivo); e o caminho oposto a tudo isso. E logo no começo já descobrimos que ele não vai ter força pra escolher qualquer um desses, mas sim vai ser jogado no único em que uma pessoa com o coração traumatizado como o dele poderia seguir: o do amor. É um amor errado, corrompido, podre e inevitavelmente comprometido, mas mesmo sendo assim, não significa que não seja amor. E sim, aqui o amor é justamente o vilão, a escolha errada, a que faria ele ser levado novamente para o começo (ou para o mesmo lugar), mas que mesmo assim é impossível de ir contra.


Tudo já está anunciado, a merda já ta escrita, não teria nem iria terminar diferente, e a angustia que ela chegue (e vai chegar) não é menor apenas por termos a consciência disso, pelo contrário, é mais ou menos como colocar um vaso em frente a uma janela e assiti-lo balançando com o vento, com um pouco mais de força ou um pouco mais de tempo ele vai cair, e mesmo sabendo disso é impossível não contorcer o rosto quando ouvir o barulho dos cacos se espatifando. E quando isso finalmente acontece, é só a expressão do Joaquin Phoenix que temos na frente, e nesse momento nos damos conta que estamos vendo talvez a cena mais sufocante de todos os tempos, mas que saberiamos que iria acontecer.


E, de qualquer forma, não consigo dizer se é um final infeliz, ou feliz. É apenas um final.Segundo melhor da década pra mim, fácinho fácinho.

A Liberdade é Azul (Krzysztof Kieslowski, 1994) - 9


Quando a personagem da Juliette Binoche acorda na cama, é como se começássemos a fazer um tour pela expressão humana. O nosso guia obviamente é a câmera, e é um guia bem indiscreto. Ele circula pelos poros a procura do maior encadeamento da dor, e nós somos turistas segurando máquinas fotográficas à procura do melhor ângulo. “Aqui vemos uma sutil tremida de queixo. Não vai durar muito, viu? Parou. Não me perguntem por que, mas isso sempre acontece. Agora se me acompanharem até aqui… Observem esse olhar. Conseguem acreditar que existe um ser vivo esmagado por ele? Ah, e não se aproximem muito para não serem sugados para o oco infinito que ele carrega. E nada de alimentar os animais”. Kieslowzski vai além de filmar a carne como simples carne, ele praticamente usa a câmera como uma seringa enfiada na medula. Ao em vez de puxar qualquer líquido dela, ele traz qualquer coisa que não seja física. É a melancolia ganhando contornos.


Ao sair do quarto do hospital ela minimiza sua vida a um estado de conta-gotas. “Menos um dia. Menos dois dias. Menos dois dias e 6 horas”, e isso fica bem evidente em uma cena especial, quando ela está sentada em um banco na rua e olha uma senhora, muito velha, com o corpo inclinado, se arrastando pela rua, fazendo um esforço descomunal apenas para largar uma garrafa no lixo reciclável. Ela não a observa com pena, mas sim com inveja. Com uma nostalgia inversa, em saber que ainda resta esperança “eu ainda vou envelhecer e morrer, pena que falta tanto”. Ela praticamente renuncia todos os sentimentos e espera a hora chegar.


É uma pessoa que sente uma dor constante, que não da trégua, que é capaz de fazer uma espécie de “pacto” com a dor física se automutilando “eu deixo você entrar em cena, desde que consiga monopolizar meu corpo. Nem que seja por míseros segundos, por favor”.


Não tem como resumir o filme de outra forma, ele é um tratado sobre a dor, sobre a perda, sobre a incapacidade de viver mesmo sobrevivendo. E uma atuação monstruosa da Juliette Binoche. Um dos filmes mais sufocantes que já assisti.

Invasores de Corpos (Abel Ferrara, 1993) - 10


Ca ra lho. Bom demais essa merda! Como falavam que esse era o menos Ferrara, tava esperando algo mais tradicional (mas ainda assim muito bom), não um dos melhores filmes de terror, sci fi, etc, de todos os tempos. E isso só é tradicional se comparado apenas ao próprio cara. Agora é oficial pra mim, ninguém filma melhor que ele. O que é a cena onde o Forrest Withaker é cercado por aqueles malucões? É sério, poucas vezes mesmo alguém conseguiu transportar tão bem essa sensação de exilio, de completo sufocamento, de frio na barriga quando enxerga a poucos centímetros uma mão que corre atrás de ti. É inquietante toda vez que um personagem caminha sozinho, ou é cercado em uma sala, ou perseguido em locais abertos, etc, por outros seres em um número maior que ele.


E fora que é genial demais a forma que tudo acontece. Não existe brutalidade ou coisas do tipo, é tudo através do sono. Não existe indicios de que essas “criaturas” realmente são uma ameaça, ou ameaça maior que nós, apenas a intimidação. Sugadores de emoções, e consequentemente o podre de cada um. Numa visão romântica onde sensações são talvez a maior razão para vivermos, é o fim de tudo abdicar delas, mas na visão mais fria, onde visam a igualdade de todos, seria o ideal, talvez.


A forma como tudo ocorre mostra que talvez eles estivessem muito mais preparados pra tomar conta do planeta, que o reflexo deles é algo bem menos doentio que o nosso, e é só ver a nossa forma de revide final.


Enfim, é demais mesmo.

Phenomena (Dario Argento, 1985) - 9


O Argento é um baita de um putão pervertido, e aqui ele joga em limites inacreditáveis a excitação pela carne jovem, inexplorada, e toda a sensualidade que ela pode exalar. E nada melhor pra isso que uma Jennifer Connelly em miniatura e toda gostosinha. A história é uma bosta, a condução dela seria sonolenta, mas o negócio é que fica impossível dormir vendo aquelas coxas branquinhas e jovens, correndo dentro de uma camisola com o ombro estratégicamente descoberto, e os seios no mais perfeito equilibrio entre os doces e delicados de uma criança, com os firmes e excitantes de uma jovem. E o Argento cria um ambiente soturno no sonambulismo apenas como desculpa para um desfile da genuina sensualidade infatil, escorregando a câmera pelos lábios, mãos, olhos, coxas e tudo que se tem mais, criando a imagem de um ser puro por essência mas que carrega consigo, e descarrega, até nos seres mais insignificantes que a rodeiam, um aroma de luxuria que fica impossível correr contra. O que é demais, e aí eu não via a hora do filme terminar pra eu descarregar também.


o filme seria "só" isso até os últimos 30 minutos, por aí (e o que já teria me agradado bastante), mas depois fica MUITO bom, quando ele finalmente surta, usa a trilha animal, joga tudo na merda, cria imagens fantásticas naquele pequeno pedaço de inferno na terra, e cria um ambiente podre, doentio, rodeado por vermes e membros pra revelar o verdadeiro demônio que criou. E pqp, dessa hora em diante fica demais mesmo.

Réquiem Para um Sonho (Darren Aronofsky, 2000) - 1


Antes de qualquer pedra: 1.eu não tenho nada contra câmera esquizofrênica, desde que saibam usa-la, e, principalmente, QUANDO usar. 2. Eu não tenho nada contra intelectualismo travestido por narrativa ou estética moderna e etceteras, desde que saibam como fazer. 3. E, definitivamente, eu não tenho nada contra a implantação de algum estilo próprio que tenha como único objetivo alcançar algum requinte visual (ou audiovisual) ou simplesmente para ser usado como uma muleta narrativa cool (se tivesse, não adoraria o Tarantino, por exemplo), desde que isso seja interessante. Mas o que eu com certeza tenho contra é ter que aturar 1 hora e meia de filosofia vazia sendo filmada como se tivessem fazendo um remake de 2001 “dahora”, não na mensagem, mas na suposta pretensão de determinado assunto.


Essa porcariazinha que esse sujeito qual nome eu não estou afim de fazer um ctrl c,v, fez, é o exercício mais bizonho de inutilidade cinematográfica. Réquiem Para um Sonho é simplesmente nada. Ele finge ser tudo, mas não é porra nenhuma. Ou seja lá o que ele for, é muito pouco perto do que ele finge ser.


O que Réquiem Para um Sonho é? Um filme que trata apenas e exclusivamente das consequências do uso de drogas. Eu uso e vou ficar assim e blá,blá. O que Réqueim Para um Sonho pensa que é? Ha, muita coisa: pensa que trata da solidão, alienação emocional, deslocamento no mundo, etc. E é filmado de tal forma que faça você acreditar que realmente existe algo por trás de tudo isso, quando na verdade ele ta filmando o vazio.


Vou pegar exemplos práticos do que Réquiem Para um Sonho é, e o que ele finge ser: Jennifer Connelly e Jared Leto, estão os dois deitados em uma cama, e então o diretor resolve corta-los, fazendo duas perspectivas na mesma cena, a dela e a dele, e então é um desfile de câmera pelos corpos dos dois. Primeiramente há apenas um confronto de olhares, eles obviamente estão em uma sintonia emocional fantástica, os olhos falam mais que a boca, são dois seres que definitivamente tem muito o que dizer (o diretor sugestiona isso com sua câmera), e então, infelizmente, o silêncio é quebrado, e o que antes era sugerido pelos olhares, agora é transformado em poesia pelos jovens rebeldes. “você é a pessoa mais linda do mundo” diz ele, “você acha mesmo?!” retruca ela, “sim, sim... sei que nunca devem ter te dito isso, mas é o que penso” indaga o james dean contemporaneo, “não é isso, já me falaram... mas é que antes não significava nada. E agora que você falou, significa, sabe...?” Sabe? É... E depois vai a Jennifer Connelly pra frente do espelho, nua na parte de baixo, e levanta os braços deixando com que uma luz acolhedora branca tome conta do lugar. Cada um pode interpretar como quiser, uns podem achar que ela estava em um estado de libertação espiritual muito forte, mais ou menos quando a mente se separa do corpo, ela pôde se desprender dos elos carnais e se livrar, momentaneamente, dessa terra cheia de injustiças, podridões, e alienação (alienação) que nossa gravidade nos obriga a sermos prisioneiros. Um momento muito belo do cinema. Ou simplesmente levantou os braços para cima enquanto estava nua na parte de baixo, que foi tudo o que aquela cena me disse. Ta, eu sempre sonhei em ver os pelinho pubianos da Jennifer Connelly, mas tinha que ser assim? Mas ok, ta valendo.

Ou vamos voltar um pouquinho no tempo, quando Jennifer Connelly e Jered Ledo invadem um prédio. Eles vão para a cobertura desse, contemplar a linda vista e desprender suas mentes juntos. Depois desse exercício emocional, o diretor comete o erro (de novo, ou primeiramente, tanto faz) de deixar eles falarem, daí ela reclama dos pais, e ele retruca “po,mas teus pais são legais, eles te dão tudo” daí ela explica “ah, sabe, eles me dão comida, dinheiro,estudo, etc,mas não dão o principal, sabe? O principal” (sabe?), daí ele “hmmm, tu tem razão. Mas pq tu não pede pra eles (pais filhas da puta) abrirem uma loja pra ti fazer teus desenhos?” daí ela “ta louco, não quero depender deles pra nada” então ele tenta a ultima cartada “mas pq tu não trabalha então?” daí ela da o touché “pq assim eu não teria muito tempo pra ficar contigo” Óunnnnnn, fufis. O diálogo foi mais ou menos assim, mas não consegui transmitir a mesma elegância. Ou seja, já deu pra entender a merda de tudo. O diretor filma eles como se fossem aspirantes a John Lennon, como se tivessem um lado Freudiano onde suas indagações transbordassem por suas peles. É quase como se ele usasse patins para filma-los, e por certas vezes, confundisse a câmera com um violino, é tudo muito belo. A grande merda é ele não assumir seu filme simplesmente como um choque visual, mostrar as consequências e pronto, um braço podre, uma mulher espumando, uma garota sendo enrabada pra conseguir a droga, etc. A merda é que ele sugere algo mais, ele endeusa os personagens, e não faz nada pra que essa expectativa seja alcançada. Ah, e tem o negão também, mas desse não quero falar, mas ele tem um lance com a mãe e tal. Hmmm...


E, enfim, a Ellen Burstyn... Chega a ser triste ver o esforço que ela faz pra tornar tudo digno. Aliás, isso é o mais triste do filme. A atuação dela ta fenomenal, é a única que consegue demonstrar a fragilidade e sensibilidade que a personagem exige. Mas a câmera desse sujeito... Ok, ele prefere satirizar a personagem no começo, adotar um tom irônico com aqueles glup glup glup e os cacete, usar uma geladeira e televisão como vilões e tudo mais. Ele é um sujeito engraçado (mais ainda quando não resolve ser). Mas o sujeito não tem noção de quando parar, ou acalmar. Ele transforma a personagem em uma palhaça, não digna de pena, mas de indiferença. A Ellen se fode lá pra sentirmos pena, mas é só indiferença mesmo, ou risos (ok, até tem como sentir pena, mas não da personagem, mas sim da atriz). O cara parece um diretorzinho recém saído da escola de cinema que quer mostrar seu estilo “muderninho” de filmar, e acaba jogando toda as sutiliezas que certas partes exigiam pelo ralo, devido a esse egocentrismo babaca. É um cara que implanta um estilo bobo, que não serve pra porra nenhuma narrativamente, e fica ridiculo visualmente, só pra parecer legalzão. É daqueles filmes perfeitos pra colocar em perfil do orkut. Tudo que se trata com a personagem da Ellen Burstyn é uma muvuca, um troço feio, ruim de assistir. Ele estraga uma personagem ou atuação, sei lá, fantástica, devido a não ter a minima noção do ridículo. O filme parece aquelas festas infantis criadas por uma bagaceira que casa com um velho rico (aquelas com unhas gigantes vermelhas, vestido de oncinha e um sinal que parece um buraco negro no rosto) e agora que tem dinheiro, inventa de fazer tudo sozinha, cheia de palhacinhos e lingua de sogra (e pescaria com brindes). O filme é feio visualmente, e um nada no que se refere mensagem. Simplesmente não existe, é como se filmassem Todo Mundo em Pânico com Mozart no fundo.


Ah, ok, tem uma cena boa: quando as amigas da Ellen Burtyn vão até aquela clinca lá e encontram ela com os cabelos cortados, toda horrível etc, e depois muda pra elas no banco, chorando. A Ellen não fala nada, mas é comovente mesmo, e se esse tom fosse adotado desde o começo... Isso é um choque visual, apenas. Isso que ele devia ter se assumido,mas não...


E não quero terminar elogiando: o filme é uma grande bosta.